POV CATARINA
A fita já tinha aberto a pele dos meus pulsos. Cada movimento, por menor que fosse, arrancava pequenas gotas de sangue que escorriam quentes até secarem em crostas grossas. A cada vez que eu tentava me soltar, a dor aumentava, como se a fita fosse uma serpente se apertando mais fundo em minha carne.
O galpão fedia. Era um cheiro de ferrugem misturado a óleo velho, madeira úmida e pó acumulado por décadas. As lâmpadas, presas a fios descascados, balançavam no teto. Ora iluminavam o rosto da Mierra, ora mergulhavam tudo em sombra. Naquela oscilação grotesca, ela parecia um demônio se revelando aos poucos, como se o breu fosse seu verdadeiro lar.
Meu ventre endurecia em ondas dolorosas. Contrações. Ondas que vinham sem aviso, arrebatavam meu corpo e depois me deixavam exausta. Eu sabia: não era hora. Não podia ser agora. Mas o corpo não obedece à razão. Meus olhos lacrimejavam, não só de dor, mas de medo — e ainda assim, eu me obrigava a permanecer lúcida.
Engoli em seco, o