Nicolo Moretti
O mundo é um túnel embaçado, e no centro dele está a nuca de Caterino Caccini, meu inimigo de uma vida, agora sentado ao meu lado no banco de trás de uma SUV blindada. Cada solavanco do carro na estrada de terra é uma facada no meu peito. A dor é uma entidade viva, um sanguessuga que se alimenta do meu ar, da minha lucidez.
Caterino falava, sua voz um ronco baixo e constante, tentando decifrar o quebra-cabeça sangrento que alguém montou bem debaixo do meu nariz. O meu nariz, que sempre cheirou traições a quilômetros de distância, mas que falhou miseravelmente desta vez.
— Tem que ser o Bruno — ele rosnava, mais para si mesmo do que para mim. — A ambição é um câncer, Nicolo. E você deu a ele muito poder. Autonomia demais. Com certeza, Mário tenha sido influenciado por ele, ou tenha descoberto algo que não devia. Por isso, Bruno o matou.
Eu fecho os olhos por um segundo, tentando ordenar os pensamentos que nadam em um mar de agonia. Apoio uma mão no peito, comprimindo a d