Paula Moretti
O tempo passa. Ou talvez não passe. A névoa que encobre a minha consciência é uma substância espessa e pesada, como um melaço negro, que me envolve e me prende. Não sei identificar se passaram horas ou minutos dentro deste limbo de dor. A consciência vai e volta, cada retorno uma punição, um lembrete brutal de onde estou e do que se tornou a minha vida.
Mas as vozes elevadas próximas ao meu corpo são um gancho de realidade, arrancando-me à força da letargia. Deixam claro que os ânimos estavam alterados. São sons distorcidos, primeiro, que vão se afinando até se tornarem palavras, até se tornarem pessoas.
Consigo reconhecer a voz de Bruno, que grita com Mário. A voz dele é um chicote, carregada de uma frustração furiosa.
— Você está sendo um idiota, Mário! Um menino mimado que quer quebrar o próprio brinquedo antes de mostrar para o pai! Se continuar agindo assim, não vai conseguir derrotar Nicolo, vai só provocar um urso e ser devorado por ele!
A resposta de Mário é um f