Aurora sempre acreditou que sua vida não passava de sobrevivência: empregos temporários, contas atrasadas e a solidão após a perda dos pais. Mas tudo muda quando uma ligação misteriosa a leva até a Tecnocare, a empresa mais influente da cidade — comandada por uma família bem poderosa, que possui segredos e é perigosa. Lá, ela conhece Kael Vescare, o herdeiro que parece odiá-la desde o primeiro olhar… mesmo assim, ele desperta nela sensações que não consegue explicar. Entre provocações afiadas, encontros sufocantes e uma atração impossível de ignorar, Aurora percebe que não consegue evitar o que sente por ele. O que ela não imagina é que sua presença naquele império não é coincidência — e que seu melhor amigo, Valentin, guarda segredos capazes de mudar tudo. Dividida entre lealdade, medo e desejo, Aurora descobrirá que entrar no mundo dos Vescare pode ser sua maior chance de melhorar de vida… ou não.
Leer másPOV AURORA.
"O barulho do impacto. Som do vidro quebrando... O carro rolando... Se amassando. Como em todos os outros sonhos... Estava tentando salvá-los... Eu corria, mesmo que não fosse o suficiente. As luzes vermelhas do carro se aproximavam em flashes, como se o tempo estivesse preso em um loop cruel. — Mamãe! Papai! — Minha voz ecoou, mas ninguém respondia. Meu corpo tremia. O suor frio escorria pela minha pele. Era como se cada segundo daquele acidente se repetisse dentro de mim, me arrancando o ar. De repente, um som agudo me puxou de volta." Trin… trin… Abri os olhos assustada. O coração disparado, respiração entrecortada. Era só o celular vibrando na mesa de cabeceira. Passei a mão trêmula no rosto, tentando me acalmar antes de atender. Me sentei... Vi a tela brilhando com um número desconhecido. — A-alô? — minha voz saiu rouca. Do outro lado, uma voz grave, mas gentil. — Senhorita Aurora? Aqui é o Senhor Vescare. Talvez não me conheça, mas sou dono de uma das maiores empresas da cidade, a Tecnocare. Um amigo em comum me indicou você para uma vaga. Gostaria de convidá-la para um teste esta manhã. Pisquei várias vezes, tentando entender se ainda estava sonhando. — Um… um teste? — repeti, sem acreditar. — Sim. Uma vaga de secretária pessoal. Se aceitar, venha até a sede da empresa às nove horas. Demorei alguns segundos para responder. Eu, Aurora, com meu currículo de pequenos bicos e trabalhos quebrados… sendo chamada para uma oportunidade como aquela? — Eu aceito. — A resposta saiu antes que minha insegurança tivesse tempo de falar mais alto. Ele me agradeceu e desligou o telefone, já eram quase oito da manhã, corri para o banho. Quando terminei, tentei encontrar a melhor roupa que tinha. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, calcei um sapato, peguei minha mochila e saí correndo sem ao menos tomar café. Eu pegaria ônibus até o centro antigo, que era onde a empresa ficava. Eu conhecia a Tecnocare, algumas vezes papai já precisou pegar encomenda lá. Já caminhei até a entrada da empresa com a mamãe, ela sempre olhava diferente para aquele lugar. Eu estava nervosa. O ônibus até o centro antigo era longo, e eu não conseguia parar de pensar: E se fosse um engano? E se eu não estivesse pronta? Quando desci diante do prédio, meu coração quase parou. Ali era um mundo que não parecia meu. Fui recebida por uma assistente, que me levou até um andar alto. As portas se abriram e, atrás de uma mesa enorme de madeira escura, estava o próprio Sr. Vescare. Um homem alto e pardo, de cabelos grisalhos e olhar firme, mas surpreendentemente caloroso. — Senhorita Aurora. — Ele se levantou e apertou minha mão. — É um prazer conhecê-la. Sente-se, por favor. Obedeci, ainda nervosa. — Fiquei impressionado com a forma como seu nome foi indicado. E mais impressionado com a coragem que notei em sua história. Sei que não foi fácil chegar até aqui. Arregalei os olhos. Ele sabia algo sobre mim? Sobre o que vivi? Sobre meus pais? Antes que eu pudesse perguntar, ele continuou: — Mas acredito que coragem vale mais do que experiência. Aqui você vai aprender, passo a passo. Assenti, tentando controlar o tremor das mãos. Ele então me conduziu por um corredor longo, apresentando salas, setores, pessoas que me olhavam com curiosidade. Falava sobre os negócios, sobre a importância da empresa na cidade, mas eu quase não conseguia absorver tudo. E então, ele abriu outra porta. — Quero que conheça meu filho. Ele será seu chefe direto. — Falou. Olhei para frente... O homem era alto, moreno, parecia poderoso, com olhos intensos que me encaravam como se atravessassem minha alma. — Kael. — Sr. Vascare o chamou, e foi como se eu tivesse ouvido esse nome de algum lugar. — Quero que conheça Aurora. — falou com um breve sorriso. — A partir de hoje, ela será sua secretária. Vai cuidar da sua agenda pessoal e estará ao seu lado em todos os eventos da empresa. — Prazer, Kael. — Falei tentando soar o mais educada possível e esconder o nervosismo que me tomava. — Bem-vinda. — Sua voz saiu seca. No instante em que nossos olhares se encontraram, um arrepio percorreu todo o meu corpo. Foi como se algo dentro de mim tivesse o reconhecido. Apenas sorri e balancei a cabeça em um gesto positivo, eu estava tentando segurar a emoção e o misto de sentimentos que aquele encontro estranho me causou. O resto do dia se arrastou em uma mistura de tensão. Kael me mostrou minha função, me guiou pela rotina, mas falou apenas o necessário. Cada frase curta. Cada olhar carregado de algo que eu não conseguia decifrar. E quanto mais ele se calava, mais eu sentia aquele estranho peso no ar entre nós. Não era hostilidade pura. Não era apenas indiferença. Era outra coisa. Algo que fazia meu coração bater rápido demais. E eu não sabia dizer se era medo… ou algo ainda mais perigoso. ***** POV KAEL. "Vê-la correndo, livre, me deixava sem ar. Sua pele era tão clara que quase brilhava entre as árvores, cabelos negros soltos, voando com o vento. Eu a seguia na floresta como se não tivesse escolha. Cada passo que ela dava parecia me puxar para mais fundo. Seus olhos azuis, mas um tom claro, quente — me fitavam como se dissessem algo. Algo que eu não queria ouvir. Algo que me assustava mais do que qualquer perigo que pudesse haver naquela floresta. Meu coração disparava. Eu sabia que não deveria estar ali, com ela. Não deveria estar visualizando aquele rosto, ela não pertencia a minha vida, mas insistia teimosamente em me visitar. Um som estridente cortou o silêncio da floresta. O despertador." Abri os olhos, sentindo a respiração pesada, o corpo quente como se realmente tivesse corrido. Com um resmungo, bati a mão no aparelho e o silêncio voltou ao quarto. Droga. Mais um sonho sem sentido. Mais uma madrugada mal dormida. Inferno! Levantei com o mesmo mau humor de sempre. Arrastei os pés até o banheiro, encarei meu reflexo no espelho. A barba perfeitamente feita em contraste com os olhos cansados, a expressão dura. Nada diferente. Liguei a torneira, lavei o rosto e me forcei a começar o dia. O terno já estava preparado. Camisa branca, gravata escura. Tudo bem alinhado, como meu pai sempre esperava. Vesti cada peça rapidamente. Na cozinha, o cheiro do café fresco encheu o ar. Meu pai já estava sentado à mesa, lendo relatórios enquanto bebia calmamente. Sempre ocupado, sempre no papel de empresário, mesmo em casa. — Dormiu bem? — perguntou, sem levantar os olhos. — O suficiente. — Minha resposta foi curta. Ele suspirou, fechando a pasta lentamente. — Precisamos conversar sobre a reunião de hoje. Há investidores que esperam uma postura mais firme da sua parte. Não pode continuar sendo o jovem herdeiro calado. Revirei a xícara entre as mãos, sem encará-lo. — Eu faço o que precisa ser feito! — Você precisa aprender a lidar com pessoas, Kael. Ninguém vai confiar em você se continuar se escondendo atrás desse silêncio. Silêncio. Era a única coisa que eu conseguia oferecer. Não havia espaço para conversas leves entre nós. Ele sempre tentava atravessar o muro que eu construí, mas eu nunca deixava. Nem iria. Não depois de tudo. Terminei o café rapidamente, empurrei a cadeira e me levantei. — Vou indo. Não esperei resposta. Peguei a maleta, a chave do carro e saí. Dirigi até a empresa, cumprimentei com olhares frios quem cruzava meu caminho e mergulhei na rotina de sempre. Planilhas, contratos, palavras que se repetiam como se não tivessem fim. Foi no meio da reunião, com gráficos projetados na parede e vozes discutindo números, que a lembrança voltou. O sonho. A garota de cabelos negros, correndo na floresta. Os olhos que me chamavam. O coração disparado. Pisquei rápido, tentando afastar a imagem. Mas não consegui. Ela continuava ali, firme, como uma marca que eu não sabia explicar. E, por mais que eu não quisesse admitir, alguma coisa dentro de mim dizia que não era só um sonho. A reunião terminou como sempre: números, projeções, promessas de crescimento. Eu falava o necessário, nada além disso. O suficiente para manter a imagem de alguém que tinha tudo sob controle, mesmo que por dentro o peso fosse outro. Ao sair da sala, soltei um suspiro pesado, massageando a nuca. Tudo que eu queria era silêncio. Mas então, parei. Meu corpo congelou no mesmo instante. Ela estava ali. A maldita garota. A mesma dos meus sonhos. Pele clara, cabelos negros que caíam abaixo dos ombros. E os olhos… os mesmos olhos azuis claros que me perseguiam nas madrugadas. Só que agora não era um delírio. Não era um devaneio noturno. Era real. Ela estava bem à minha frente. Meu coração disparou de um jeito violento. E junto com ele veio outra coisa: uma fúria súbita. Uma raiva que queimava no fundo do peito, como se a simples presença dela fosse uma ameaça. E era. O que meu pai achava que estava fazendo? — Kael. — A voz do meu pai quebrou o choque, soando autoritária, como sempre. — Quero que conheça Aurora. Aurora. O nome ecoou na minha mente com força, como se já tivesse sido gravado em mim antes mesmo de ser pronunciado. O nome que eu já havia ouvido outras vezes e que me forçava a esquecer. — A partir de hoje, ela será sua secretária. Vai cuidar da sua agenda pessoal e estará ao seu lado em todos os eventos da empresa. — Ele falava orgulhoso. Meus punhos se fecharam sem que eu percebesse. Eu precisava me controlar. Precisava manter a calma, sufocar aquela ira que crescia. Era irracional, e eu não podia ser irracional agora, mesmo que cada parte de mim gritasse em alerta. Meu outro eu estava maluco, mas eu o silenciei com um... Pare. — Prazer, Kael. — A voz dela soou suave, educada, sem saber da tempestade que estava despertando. Ergui os olhos para encará-la. E os dela… exatamente como no sonho. Quentes, claros, intensos. Exatamente como da primeira vez em que os vi. Respirei fundo, tentando endurecer a expressão. Não podia deixar transparecer nada. — Bem-vinda. — Minha voz saiu seca, quase cortante. Ela sorriu, simples, sem perceber que meu coração batia tão alto que era quase impossível ouvir qualquer outra coisa. Naquele momento, percebi que algo havia mudado. E por mais que eu quisesse lutar contra, sabia que minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Ele havia trazido o inimigo para dentro da nossa muralha, estava me afrontando, me forçando a entrar no eixo. Era pior do que eu imaginava.POV AURORAEntramos em casa e eu joguei minha mochila no chão ao lado do sofá, eu estava completamente ensopada, Val correu para pegar uma toalha para mim. Mas seu olhar ainda era de quem me reprovava.— Posso saber por que você está de mal de mim? — Perguntei o encarando enquanto secava meus cabelos e corpo. — Não estou de mal de você, Aurora. — Ele revirou os olhos ainda carrancudo. — Ahh Valentin... — Falei já ficando sem paciência. — Vai fazer o garoto mimado agora? — Eu não estou... — Ele bufou — Desde quando você veste roupas caras e anda no carro do Kael? — Então você o conhece? — O encarei agora curiosa. — E você não respondeu minha pergunta. — Ele cruzou os braços. — E você me esconde coisas. — Eu ri já impaciente. — Então era por isso todo aquele papo de eles são ruins. Vocês já se conhecem. Como vocês se conhecem? — Aurora! — Ele deu de ombros. — Os meus pais são figuras da mais alta sociedade. Sabe a quantos eventos eu já tive que ir? Não se faça de inocente. — E p
POV KAELA chuva caía forte no teto do carro enquanto eu dirigia em silêncio.A cada relance, meus olhos se desviavam para ela. Aurora estava encolhida no banco ao lado, abraçando ao próprio corpo como se fosse um escudo. O cabelo negro grudava em sua pele pálida, as gotas escorrendo pelo rosto que, mesmo cansado, parecia brilhar de um jeito que me irritava.Eu não sabia explicar o que sentia. Era um incômodo constante, um nó apertado no estômago. Ela não deveria estar ali. Não deveria mexer comigo desse jeito.Eu não deveria ter a beijado... Agora, eu queria mais provar seus lábios. Ao entrar na vila Carmim, meu corpo enrijeceu. O asfalto irregular, as casas amontoadas, o cheiro de terra molhada misturado com ferrugem. Algo naquele lugar me trouxe lembranças que eu não queria revisitar. Lembranças antigas, mal enterradas. O passado me golpeando como uma lâmina fria.Engoli em seco, forçando o olhar adiante. Mas tudo mudou quando o vi parado ali, bem na porta dela. Valentin. Ele esta
POV AURORA. Ele estava tentando me boicotar, só podia ser isso.Só assenti, fui até a sua mesa e peguei o ipod com o projeto que ele queria que fosse impresso.Eu poderia até tremer de raiva, como ele conseguia ser tão egoísta? Tentei imprimir o mais rápido possível e o entreguei.Em seguida, peguei minhas coisas e saí apressada, a Maria já havia mandando entregar as sacolas em minha casa e me retornado a chave, o que era uma benção porque eu não conseguiria pegar ônibus com todas aquelas sacolas. Quando saí da Tecnocare já estava um escutava o som do vento.Ao me aproximar do ponto, meu ônibus passou por mim em uma velocidade surreal. Eu ainda corri para tentar alcança-lo, mas ele já estava longe. “Que merda!” Bufei. Tudo culpa daquele idiota. Agora eu teria que andar até o próximo ponto, cerca de vinte minutos da empresa para pegar outro ônibus em via de ligação. — Tudo bem, Aurora. Você consegue. — Falei sorrindo para mim mesma. — Essa é a oportunidade da sua vida, não se re
POV AURORA. As portas espelhadas do elevador se abriram, e por um instante eu quase hesitei em dar o primeiro passo.O salto fino ecoou no chão de mármore, chamando a atenção de todos na recepção da Tecnocare. Era como se eu tivesse atravessado um portal: a Aurora simples, de roupas gastas e cabelos sempre soltos ao vento, tinha ficado para trás. A imagem refletida no vidro agora mostrava outra pessoa.Maria tinha razão: eu estava impecável. O blazer ajustado ao corpo, a saia lápis que moldava minhas curvas discretas, os cabelos presos em um coque elegante. O perfume novo ainda parecia estranho para mim, mas exalava a cada movimento, me envolvendo numa aura diferente.A secretária sorriu orgulhosa ao meu lado, como se fosse uma obra dela.— Levante o queixo, Aurora. Hoje você precisa que todos te vejam.Respirei fundo e caminhei até a sala de reuniões, tentando não tremer.O Sr. Vescare me recebeu de pé, sorriso acolhedor, como sempre.— Ora, ora… — ele abriu os braços, avaliando min
POV AURORA. As palavras dele ainda ardiam na minha pele. “Vestida assim?”Não sei por que aquilo me atingiu tanto. Talvez porque eu tinha passado a noite inteira escolhendo a roupa.Talvez porque eu quisesse, mesmo sem admitir, causar uma boa impressão. Mas diante de Kael, parecia que nada seria suficiente.Fingi não me abalar, mas por dentro eu ardia.Passamos a manhã juntos. Kael parecia odiar cada segundo dessa obrigação.— Não, não é assim. — Sua voz soou dura, impaciente. Ele se inclinou sobre minha mesa para tomar o mouse das minhas mãos. Nossos dedos se tocaram por um instante.Era como se uma corrente elétrica tivesse atravessado minha pele.Meu coração se apertou, me lembrei do beijo ao mesmo instante... Olhei para seu rosto, mesmo sério. Ele era lindo, sexy e frio... Desviei o olhar e foquei em olhar para o monitor. Afastei os meus dedos do dele, tentei recuperar o ar.— Eu entendi — murmurei, firme, mesmo que minhas mãos estivessem tremendo.Ele me lançou um olhar afiado
POV KAELDia seguinte... A caneta batia contra a mesa de vidro enquanto eu olhava fixamente para a tela do computador. O telefone preso ao ouvido me prendia a uma conversa que eu não tinha paciência para manter.— Sim — minha voz saiu fria, sem espaço para réplica. — Estarei lá. Não costumo me atrasar. Espero que você também não.Do outro lado, uma risada nervosa, uma resposta que não ouvi inteira. Eu já havia desligado antes que terminasse.Joguei o telefone sobre a mesa e encostei-me na cadeira, respirando fundo. Mas, em vez de relaxar, minha mente foi invadida pelo que eu vinha tentando evitar o dia inteiro.Aurora.O nome nem precisava ser dito para que o peso dele caísse sobre mim.Enquanto ela tentava entender a agenda digital, seus dedos tremiam sobre o teclado. Eu me aproximei, irritado com a lentidão.— Não é tão difícil, preste atenção — minha voz saiu seca, dura demais.Ela ergueu o rosto, os olhos azuis claros me encontraram. Por um instante, me perdi neles. Havia algo al
Último capítulo