5

POV AURORA. 

As portas espelhadas do elevador se abriram, e por um instante eu quase hesitei em dar o primeiro passo.

O salto fino ecoou no chão de mármore, chamando a atenção de todos na recepção da Tecnocare. Era como se eu tivesse atravessado um portal: a Aurora simples, de roupas gastas e cabelos sempre soltos ao vento, tinha ficado para trás. A imagem refletida no vidro agora mostrava outra pessoa.

Maria tinha razão: eu estava impecável. O blazer ajustado ao corpo, a saia lápis que moldava minhas curvas discretas, os cabelos presos em um coque elegante. O perfume novo ainda parecia estranho para mim, mas exalava a cada movimento, me envolvendo numa aura diferente.

A secretária sorriu orgulhosa ao meu lado, como se fosse uma obra dela.

— Levante o queixo, Aurora. Hoje você precisa que todos te vejam.

Respirei fundo e caminhei até a sala de reuniões, tentando não tremer.

O Sr. Vescare me recebeu de pé, sorriso acolhedor, como sempre.

— Ora, ora… — ele abriu os braços, avaliando minha aparência com satisfação. — Eu sabia que a Maria ia fazer milagres. Está radiante, minha querida. Exatamente como a Tecnocare merece.

Sorri tímida, sentindo o rubor tomar conta do meu rosto.

— Obrigada, senhor. Só estou tentando dar o meu melhor.

Antes que pudesse me acomodar, senti o peso de um olhar. Frio, intenso, desconfortável. Levantei os olhos devagar e lá estava ele: Kael.

Encostado à mesa, braços cruzados, a gravata afrouxada, como se o ambiente inteiro tivesse que se adaptar ao seu ritmo. Seu olhar percorreu meu corpo de cima a baixo, devagar, sem qualquer disfarce. Mas não havia admiração naquela avaliação; havia julgamento, e uma faísca que ameaçava me queimar por inteira. 

A sala parecia ter encolhido, todos aguardando a reação dele.

— Finalmente entendeu que isso aqui não é um mercado de rua — ele disse, a voz grave cortando o ar como uma lâmina.

A sala ficou em silêncio. Até o som dos teclados e telefones da recepção pareceu sumir.

Senti meu rosto queimar. A vontade de desaparecer era enorme, mas engoli em seco e firmei minha voz:

— Estou apenas tentando estar à altura da empresa, senhor Kael.

Ele ergueu uma sobrancelha, como se divertisse com a minha ousadia.

— A altura da empresa exige muito mais do que roupas caras.

Segurei a pasta com tanta força que meus dedos doíam.

— Estou aberta a aprender com o senhor.

O olhar dele brilhou por um segundo, algo entre raiva e… interesse. Mas logo desviou, frio como sempre, enquanto seu pai mudava de assunto, rindo para quebrar o clima pesado.

O restante do dia foi uma guerra silenciosa.

Kael me corrigia de forma seca, quase cruel. Cada palavra dele parecia cuidadosamente escolhida para me diminuir.

— Você é lenta.

— Está desatenta.

— Isso não serve.

Mas cada vez que nossos olhos se encontravam, era como se o mundo perdesse o som por um instante. Havia uma tensão insuportável, algo que queimava por baixo da superfície. E eu não entendia… porque, por mais ríspido que fosse, meu corpo reagia como se já o conhecesse, como se a lembrança dele estivesse gravada em mim.

Eu estava segurando todas as pastas ao mesmo tempo e acabei deixando cair uma única folha da agenda no chão. Me abaixei para pegar, ele também. Nossos rostos ficaram a poucos centímetros. O olhar dele me atravessou, forte, sufocante. Por um momento achei que o tempo tinha parado - mas logo ele se ergueu bruscamente, pegando o papel da minha mão como se fosse algo impuro. Como se eu estivesse suja.

— Seja mais cuidadosa — disse, seco, antes de se afastar.

Fiquei com a respiração presa na garganta. Mais um dia. 

“Eu só preciso aguentar” Sussurrei para mim mesma. 

Eu precisava daquele emprego, não poderia abrir mão. Não entendia porque ele me tratava daquela forma. Era cruel. Talvez toda a reputação da qual Valentin falava fosse dele. Ele deveria ser o mau da empresa. 

Quando o expediente acabou, notei que ao lado de fora uma chuva terrível ameaçava cair. Peguei minhas coisas rapidamente porque acabaria perdendo meu ônibus se não adiantasse. 

— Aurora! — Kael chamou de dentro do escritório me fazendo bufar discretamente em resposta. 

— Sim!. — Respondi chegando á sua porta. 

— Tenho uma última impressão para você fazer. — Ele disse sem ao menos me encarar. 

— É que... — Baixei o olhar. — Não posso fazer amanhã? Se eu perder o horário, acabarei perdendo meu ônibus, e... 

— Isso não é problema meu. — Ele disse agora suspendendo seu olhar cruel para mim. — Preciso desse projeto agora. E não posso parar aqui. 

Lascou de vez... Vou me atrasar, e quem é o culpado? Claro, o meu chefe... 

O que posso fazer? Não posso dizer não. Esse é o meu emprego, afinal. 

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