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POV AURORA. 

As palavras dele ainda ardiam na minha pele. “Vestida assim?”

Não sei por que aquilo me atingiu tanto. Talvez porque eu tinha passado a noite inteira escolhendo a roupa.

Talvez porque eu quisesse, mesmo sem admitir, causar uma boa impressão. Mas diante de Kael, parecia que nada seria suficiente.

Fingi não me abalar, mas por dentro eu ardia.

Passamos a manhã juntos. Kael parecia odiar cada segundo dessa obrigação.

— Não, não é assim. — Sua voz soou dura, impaciente. Ele se inclinou sobre minha mesa para tomar o mouse das minhas mãos. Nossos dedos se tocaram por um instante.

Era como se uma corrente elétrica tivesse atravessado minha pele.

Meu coração se apertou, me lembrei do beijo ao mesmo instante... Olhei para seu rosto, mesmo sério. Ele era lindo, sexy e frio... 

Desviei o olhar e foquei em olhar para o monitor. 

Afastei os meus dedos do dele, tentei recuperar o ar.

— Eu entendi — murmurei, firme, mesmo que minhas mãos estivessem tremendo.

Ele me lançou um olhar afiado, como se pudesse ler a mentira estampada no meu rosto.

Mais tarde, quando tentei preencher uma das planilhas, ele se aproximou por trás. O cheiro do seu perfume me cercava.

— Está errado — disse baixo, a voz próxima ao meu ouvido.

Engoli em seco, virei o rosto de leve, e nossos olhos se encontraram de perto. Senti meu coração disparar.

Céus... Por que estou sentindo isso? 

— Talvez se você tivesse explicado melhor… — arrisquei, sem desviar o olhar.

A mandíbula dele se contraiu. Ele apoiou uma das mãos na mesa, perto da minha, prendendo-me sem encostar.

— Eu não tenho tempo para segurar a sua mão, Aurora. Se quiser esse trabalho, vai ter que aprender rápido. — disse sério. 

Meu sangue ferveu.

— Eu não preciso que segure a minha mão. Só não vou aceitar ser tratada como uma incompetente. Com todo respeito, eu sei fazer, só não consigo se o senhor estiver o tempo todo focado em me tratar mal. 

O ar pareceu congelar. Os olhos dele escureceram, e por um segundo achei que ele fosse dizer algo que não poderia ser retirado depois. Mas, em vez disso, ele se afastou bruscamente, pegando uma pasta sobre a mesa.

— Eu não sou seu terapeuta, Aurora. Sou seu chefe, e se você não entende como funciona o ambiente coorporativo, não posso fazer nada por você. Só não erre de novo. — A voz saiu fria, mas eu percebi a tensão no modo como ele segurava os papéis, quase amassando-os.

Eu apenas... Assenti, não disse uma palavra. 

Durante o resto do dia, nossas interações foram assim: secas, afiadas, cada palavra carregada de uma faísca que parecia pronta para incendiar tudo ao redor.

Eu não recuava, ele não cedia. Era uma guerra silenciosa, e ninguém parecia notar - exceto nós dois. Eu precisava muito daquela vaga, mas não aceitaria ser tratada como lixo por um mimado, eu não tinha sido contratada por ele e se tem uma coisa que eu jamais deixaria, seria minha dignidade. 

Quando o expediente acabou, senti como se tivesse passado por uma batalha de horas. Estava exausta, a mente confusa, e o coração… pesado.

Cheguei em casa, joguei a mochila no sofá e me deixei cair na cama sem nem trocar de roupa.

Valentin não havia me acompanhado aquela noite, o que me fez rir imaginando que seus pais poderiam tê-lo prendido em casa para alguma reunião de negócios que ele detestava. Algumas vezes o Valentin sumia, e quando voltava, era cheio de histórias para contar sobre seus pais, e isso era divertido... Outras vezes, ele voltava mais fechado, e parecia guardar muitas coisas para si mesmo. 

Meus olhos começaram a pesar..  mas mesmo no meio do cansaço, flashes do dia vinham em minha mente: o toque rápido das mãos, o olhar dele sobre mim, a forma como sua voz grave parecia me cercar.

Suspirei fundo, virando para o lado.

— Não vou desistir. Não por causa dele. — Resmunguei antes de tudo ficar escuro de vez e eu apagar.

****

O sol mal tinha subido quando ouvi batidas na porta. Levantei, ainda sonolenta, passei a mão no rosto, arrumei um pouco os cabelos e abri a porta.

Do outro lado estava Maria, a secretária pessoal do Sr. Vescare. Eu a conhecia de vista, ele a havia me apresentado rapidamente no primeiro dia.

— Bom dia, Aurora! — disse, animada, segurando a bolsa no braço. — O Sr. Vescare me pediu para passar aqui cedo.

— Aqui? — perguntei, confusa, ainda de pijama. — Mas… por quê?

Maria sorriu, os olhos brilhando.

— Porque hoje você vai comigo. — Ela me mediu dos pés à cabeça, mas sem a dureza que Kael costumava ter. — Vamos dar um jeito no seu guarda-roupa. Um banho de loja, como o Sr. Vescare mesmo disse.

Pisquei, surpresa, o coração acelerando.

Será que havia sido pelo episódio com o Kael? Sem dúvidas! O Sr. Vescare estava do meu lado, e isso me deixava mais determinada ainda a lutar por aquela vaga. Agora é que eu não ia desistir mesmo. 

Maria mal me deu tempo de protestar. Antes que eu percebesse, já estávamos dentro de um carro preto, seguindo para o centro da cidade. Eu tentava ajeitar o cabelo de qualquer jeito, envergonhada de estar ao lado dela com meu moletom velho e tênis gasto.

— Não precisa ficar nervosa — ela disse, como se pudesse ler minha mente. — O Sr. Vescare quer que você se sinta à altura da função. E, sinceramente, você tem presença. Só falta mostrar isso com a roupa certa.

Sorri de canto, sem graça.

— Presença? Acho que seu chefe não concordaria. — Bufei.

Maria riu, balançando a cabeça.

— Ah, Kael… — murmurou, olhando pela janela. — Ele é complicado. Mas não leve para o lado pessoal. Ele trata todo mundo assim.

— Eu não sei… — respondi, hesitante. — Comigo parece que é mais do que isso. Como se… eu incomodasse.

Maria me olhou com atenção, como se pensasse duas vezes antes de falar.

— Talvez você incomode mesmo. — Sorriu de forma misteriosa. — Nem sempre isso é ruim.

Chegamos ao shopping, e antes que eu pudesse reagir, ela já me arrastava de loja em loja.

Ela pegou vestidos, ternos sob medida, saltos discretos, mas elegantes. Cada vez que eu saía do provador, Maria batia palmas, ajustava a barra da saia, arrumava meu cabelo.

— Viu só? — dizia. — Você nasceu pra ser notada. Só estava se escondendo.

Olhei meu reflexo no espelho e quase não me reconheci. A menina de roupas simples tinha dado lugar a uma versão mais firme, mais adulta de mim mesma. Mas algo no fundo me deixava desconfortável.

— Não sei se isso é… eu. — confessei, ajeitando a gola do blazer.

— É você, só que de uma forma que o mundo vai respeitar — Maria respondeu, convicta. — E, acredite, respeito é fundamental quando se trabalha com os Vescare.

As palavras dela ficaram gravadas em mim. Havia algo na forma como ela disse “os Vescare”… como se houvesse segredos ali, camadas que eu não podia enxergar e isso me fez lembrar da conversa com Valentin. 

Quando finalmente saímos com as sacolas, Maria sorriu satisfeita.

— Amanhã, quando Kael olhar pra você, não vai ter como ignorar.

Meu coração disparou só de ouvir isso. Eu queria mesmo era ser ignorada por ele, não sei porque meu coração estava trabalhando ao contrário.

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