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Capítulo 3 – A Fera Que Eu Me Tornei

Sobreviver na rua é como virar bicho.

Você aprende a farejar perigo, a rosnar para defender o que é seu, a atacar antes de ser atacado.

E eu aprendi rápido.

Os primeiros dias foram os piores.

A fome queimava por dentro. A pele cheirava a abandono.

Dormia enrolado em papelão molhado, dividindo espaço com ratos e gritos perdidos no vento.

Mas foi ali, na calçada fria da cidade podre, que conheci Tião.

Tião era um moleque de rua igual a mim, mas com os olhos de quem já tinha morrido e voltado.

Sabia onde encontrar restos de comida, onde dormir sem ser chutado por polícia ou por bêbado filho da puta.

— Cola comigo, pivete — ele disse no terceiro dia. — Aqui a rua só não mata mais rápido se tu souber andar com os certos.

A gente começou a se virar junto. Roubava comida, invadia mercados, enganava turista.

Conhecemos outros. Lena, uma garota que vendia o corpo por 20 reais e um cigarro. Fábio, que já tinha matado dois em brigas de faca. E o Tonho — viciado em crack, magro feito vara de pescar, mas com um riso fácil que dava raiva.

Durante um tempo, achei que aquela seria minha vida.

Dormir escondido, correr da PM, buscar comida no lixo e fugir da chuva.

Mas a rua cobra. Sempre cobra.

Lena foi a primeira a cair.

Um cliente a estrangulou num beco escuro. Ela tinha só 16.

Eu vi o corpo. Rosto roxo, olhos abertos, calcinha rasgada.

Tião chorou. Eu não consegui.

Depois foi Fábio. Tomou três tiros no peito tentando assaltar um carro na Vila Formosa.

Tonho... foi overdose. Encontramos ele com o cachimbo na mão e espuma saindo da boca.

Só sobramos eu e Tião. E a cada morte, eu me endurecia. A dor foi virando raiva, e a raiva, ódio puro.

Eu não chorava mais.

Nem por Lena. Nem por Fábio. Nem por ninguém.

Minha alma tava apodrecendo — e eu deixava.

Foi numa dessas madrugadas que tudo mudou.

Eu e Tião estávamos num galpão abandonado, tentando dormir, quando um desgraçado apareceu. Um assaltante de rua que achou que podia nos roubar. Ele veio com uma faca e encostou no meu pescoço.

Mas naquele momento… algo dentro de mim estourou.

Peguei uma barra de ferro enferrujada e, antes que ele dissesse qualquer coisa, quebrei os dentes dele com a primeira porrada. A segunda rachou o nariz. A terceira, quarta, quinta... eu perdi a conta.

Eu continuei batendo mesmo depois do cara parar de se mexer.

O sangue respingava no meu rosto, quente, espesso, e eu me sentia... vivo.

Possuído. Como se todo o meu ódio tivesse saído em forma de soco.

Quando parei, ele era só um pedaço disforme de carne e ossos quebrados.

Tião me olhava em choque. Eu olhei de volta e cuspi no chão.

— Filho da puta achou que ia me matar? Vai para o inferno.

Foi ali que alguém bateu palmas lentas na sombra.

Um homem alto, de terno caro, encostado na parede. Fumaça de charuto no ar.

— Bonito show — ele disse, com um sorriso torto. — Você tem algo… diferente nos olhos. Aquela fúria boa. Aquela sede de sangue que nem todo mundo carrega.

O nome dele era Luciano Tavares, mas no submundo todos o chamavam de Lúcio.

Capanga de confiança de um dos maiores mafiosos da cidade: Salvatore Mancini.

— Tô te oferecendo uma chance, moleque. Trabalho limpo. Dinheiro. Arma na mão. Proteção.

Você não quer mais viver como lixo, quer?

Na hora, eu hesitei.

Eu ainda tinha um restinho de noção, um fiapo de medo de me entregar à escuridão de vez.

Mas aí eu lembrei do meu pai.

Da imagem dele caído, sem vida.

Da minha mãe internada, gritando para paredes que não respondiam.

De Lurdes, do maldito Zé.

De Israel Ravena.

Do riso dele no enterro do meu pai.

E eu soube a resposta.

— Eu topo.

Lúcio me olhou como quem reconhece um irmão do caos.

— Bem-vindo ao inferno, garoto.

Nos dias que seguiram, ele me treinou como um cão de guerra.

Armas, luta, tortura. Eu aprendi tudo.

E aprendi rápido.

Cada tiro que eu dava, cada osso que eu quebrava, era uma dívida paga com o mundo.

Era um passo a mais no meu caminho de vingança.

Tião, com medo do que eu tava virando, se afastou.

— Tu virou um monstro, Pedro.

Talvez ele estivesse certo.

Mas eu precisava ser monstro.

Para vencer outros monstros, eu precisava me tornar pior do que eles.

Porque, no fim das contas…
eu não tinha mais alma a perder.

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