As noites começaram a se fundir com os dias. No hospital, o tempo não existia. O ar era sempre o mesmo, denso de éter e medo, e as luzes nunca apagavam. Isabella dormia com os olhos semicerrados, como se jamais estivesse em paz.
Eu já não lembrava da última vez que comi. Ou dormi. O cheiro de sangue seco e remédios impregnava minha pele. Tudo em mim parecia sujo. A alma, mais que o corpo.
Foi numa madrugada, às 03:44, que a mensagem chegou.
📩 Número desconhecido.
“Ela ainda respira. Mas eu posso mudar isso em segundos.”
Em anexo, um vídeo.
Cliquei.
Isabella. Na maca. Desacordada, sendo empurrada pelo corredor do hospital. A imagem tremia — como se tivesse sido filmada às pressas, de longe. Mas dava para ver os olhos semicerrados dela, o lençol branco cobrindo as pernas imóveis, e ao fundo, a respiração abafada de quem filmava.
— Você é tão frágil, minha querida... — sussurrou a voz na gravação. Clara.
Parei o vídeo. Me levantei da cadeira como um cão farejando o próprio algoz. Meus o