"Há viagens que não fazemos com o corpo, mas com os estilhaços da alma."
O avião cortava as nuvens com uma paz falsa. Aqui dentro, era tudo silêncio, ar reciclado e vozes abafadas. Mas dentro de mim... dentro de mim havia gritos. Uma tormenta inteira.
Eu olhava pela janelinha como se o céu fosse me responder o que Pedro faria quando me visse. Se me enxergaria como a mulher que o amou com tudo que tinha… ou como mais uma fraqueza a ser descartada.
— Tá com frio? — a voz de Lúcio veio baixa, quase uma carícia. Ele já me conhecia demais. Sabia que eu tremia, mas não era por causa do ar-condicionado.
— Não. É só... o medo.
Ele não respondeu de imediato. Apenas me ofereceu sua mão e eu segurei. Como uma criança prestes a pular do penhasco, esperando que alguém a segure no ar.
— E se ele me mandar embora, Lúcio? E se olhar nos meus olhos e disser que não sente nada?
Minha voz saiu como um sussurro rouco, carregado de cacos.
— Aí você volta comigo — ele respondeu com firmeza. — Com o coração