O inferno do passado
Eu aprendi cedo nesta vida miserável que o mundo não é justo, não existe essa mentira que a verdade sempre vence, no meu coração a única coisa que vence é o ódio fervente que corre em minhas veias em forma de sangue, e sobre o amor, ah o amor, isso só existe em livros de ficção cientifica ou em contos religiosos, o amor e apenas uma ilusão e nunca poderá salvar ninguém.
Na escuridão do passado, eu perdi tudo, na intensidade de uma única noite encontrei a chance de destruir... ou me perder de novo.
Meu nome é Pedro Ferraz.
Palavras amargas? Mas minha vida desde os 14 anos de idade tem sido assim, quando conversei com meu pai pela última vez, numa sexta-feira, o dia estava lindo, sol parecia que mim chamava para brincar de bola com os outros meninos da rua, porém meu pai com o semblante sério mim chamou friamente para conversar.
E suas palavras foram: — Pedro preste bastante atenção em cada palavra, pois você não as escutará novamente de minha boca.
— Você será responsável por cuidar de sua mãe, e reerguer o nome da empresa que hoje foi jogado na lama, minha reputação e todo nosso patrimônio, jure-me filho que tudo que mim prometer hoje você irá cumprir nem que para isso você tenha que descer ao mais profundo abismo.
Eu sem saber o que estava por vim fiz a promessa.
Logo, mas à tarde escutei o grito estridente de minha mãe, corro para ver o que estava a acontecer, encontro meu pai morto na banheira de uma forma deplorável, pegou a chapinha de cabelo da minha mãe cortou o fio, desencapou o bastante para morrer eletrocutado na banheira que fazia amor com minha durante toda sua vida.
Lembro-me de ver suas mãos retorcidas, segurando a borda da banheira, seus olhos abertos, uma espécie de espuma branca misturada com saliva e sangue saindo pelo canto de sua boca, a língua toda cortada pelos dentes fora da boca, é isso que ao dormir toda noite ocupa minha mente.
Imagine vê seu pai, seu herói, para mim o homem mais íntegro que já conheci, engolido pela ruína, humilhado pela queda, consumido pela traição.
E o nome por trás disso tudo? Israel Ravena.
Ex-sócio. Ex-amigo. Ex-homem de palavra. Filho da puta que destruiu a minha família com um sorriso no rosto e um contrato nas mãos.******
No dia seguinte, veio o velório.
Salão modesto, flores murchas, olhares constrangidos. Minha mãe sentada em silêncio absoluto, os olhos secos demais. Como se até as lágrimas tivessem medo de cair.Entre os rostos apagados, surgiu ela.
Lurdes, a única irmã do meu pai.O rosto dela era pálido, como se tivesse sido moldado por décadas de raiva e sofrimento acumulada. Os olhos eram duros, sem brilho. Ela nunca gostou do meu pai. Nunca escondeu isso. Sempre dizia que ele teve as oportunidades que ela nunca teve. Que a vida deu tudo para ele e nada para ela.
Casada com um homem fracassado, um bêbado violento que batia nela constantemente.
Nonato Ribeiro, conhecido como Zé Ribeiro. Meu tio de nome, não de afeto.
Ela apareceu no velório vestida de preto, mas sem luto no rosto. Apenas rancor.
Sentou-se no fundo, os braços cruzados e semblante, mas frio que meu pai.— Morreu como viveu: fugindo — murmurou, sem se importar se eu ouvia.
— Tua mãe agora tá aí, toda lesada, essa rapariga se achava melhor que todo mundo, tinha a porra de um rei na barriga e tu... tu vais ver o que é carregar uma cruz sozinho pivete desgraçado.Senti a raiva subir. Mas não respondi.
Porque naquele momento, eu soube que ela estava certa sobre uma coisa:eu estava sozinho.Ali… naquele instante... eu comecei a sentir o peso de tudo.
Ali, começou o meu sofrimento.
Ali, eu deixei de ser filho.
E comecei a virar uma sombra, um vulto de puro ódio e dor.E então, ele apareceu.
Israel Ravena.De terno e óculos escuros — mesmo em ambiente fechado.
Um teatro. Uma afronta. A hipocrisia vestida de luto.Eu estava parado perto do caixão, tentando respirar, tentando entender o que ainda restava de mim. Quando vi aquele rosto entrar por aquelas portas, meu sangue ferveu.
O salão ficou pequeno. O ar rarefeito. Minha visão, turva, todo o meu corpo reagiu.
— O que esse desgraçado está fazendo aqui? — sussurrei, sentindo minhas mãos se fecharem em punhos.
— Pedro... — alguém tentou me segurar...
Israel caminhou até o corpo do meu pai com a calma de quem vem pagar uma dívida de favor, não de culpa. Fez o sinal da cruz, baixou a cabeça.
Falso. Cínico. — Você não tem o direito de estar aqui! — gritei.Os olhares se voltaram todos para mim. Minha mãe começou a tremer no banco, os olhos vagando, fora da realidade.
— Eu lamento sua dor, Pedro — disse Israel, com a voz baixa, ensaiada. — Seu pai era um grande homem.
— E você o matou! — avancei, mas fui contido por pessoas que nem conheço. — Você acabou com ele, com a empresa, com tudo!
— Saia daqui! — alguém gritou do fundo. — Vai embora, seu canalha! — outra voz, revoltada.O salão virou um caos. Gritos, empurra-empurra, minha mãe começou a chorar, perdida, sem entender onde estava.
Israel recuou. Frio. Intacto. Saiu com a mesma tranquilidade com que entrou. Sem remorso. Sem alma.Naquele momento, eu não chorei. Chorar seria aceitar a dor. Eu escolhi o ódio.
Hoje, o sobrenome Ferraz não vale nada. Minha mãe mal reconhece o próprio reflexo no espelho. E eu? Eu só existo por uma razão: vingança.