O relógio marcava quase dez horas da manhã quando Guilherme desceu para o saguão do hotel. A cidade de São Paulo fervilhava, como sempre, com buzinas impacientes, passos apressados, vozes cruzando-se num murmúrio coletivo. Mas dentro dele, tudo era silêncio — um silêncio pesado, espesso, que vinha se arrastando há dias. Desde que voltara ao Brasil, cada canto familiar, cada avenida, cada cheiro parecia sussurrar o nome dela.
Júlia.
Ele achava que estava preparado para revê-la. Acreditara que poderia explicar tudo, dar palavras às cicatrizes, reconstruir o que havia destruído. Mas quando ela finalmente se sentara na frente dele, no restaurante iluminado por luzes mornas, ele percebeu que o tempo não havia apenas passado — ele havia transformado. Júlia não era mais aquela garota que esperava respostas. Ela era uma mulher feita de firmeza, de passos precisos, de decisões que não tremiam. E, naquele instante, ele soube: perdê-la não havia sido apenas um erro. Era o tipo de erro que muda o