Capítulo 36 — O Homem do Chapéu
A noite em Santa Clara não era como em outras cidades. O porto nunca dormia por completo. As lamparinas penduradas nos mastros projetavam reflexos trêmulos sobre a água escura, como se chamas dançassem dentro do próprio mar. O som metálico das correntes, misturado ao ranger dos barcos que balançavam presos ao cais, criava um fundo musical inquietante, um aviso constante de que algo ali estava sempre em movimento, mesmo quando tudo parecia parado.
Rafael caminhava com passos lentos, atento a cada detalhe. O bilhete com o número 1190 permanecia guardado em seu casaco, queimando-lhe a pele como se fosse um segredo vivo. Ele ainda não entendia a origem daquela caixa, nem o motivo de Helena ter surgido justamente quando o mistério começava a tomar forma. Mas havia algo mais: aquela sombra que os observava no amanhecer não lhe saía da cabeça. O homem de chapéu.
Ao dobrar por uma viela estreita, Rafael sentiu o arrepio subir-lhe pela espinha. O som dos pr