Capítulo 26 — O Eco do Silêncio
O primeiro som que Rafael ouviu não foi o da cidade: foi o do porto. Um som de madeira e água — das ondas batendo no casco, dos mastros estalando devagar, do guindaste que nunca dorme. Depois veio o apito curto de uma empilhadeira. A manhã tinha chegado antes dele.
Apalpou o lençol, procurando o corpo de Helena. Toque frio.
— Claro… — murmurou, meio rindo de si, meio irritado. — Rainhas não acordam na mesma cama.
Levantou devagar. O corpo lembrava cada segundo da noite — cheiro de sal e perfume, o rubi tocando-lhe o lábio, o comando sussurrado: “beija quando eu mandar e escreve quando eu calar”. No aparador, um objeto que não estava ali ontem: um lenço de seda vermelho, dobrado com precisão. Ao abrir, o bordado dourado brilhou discreto: um círculo, duas curvas simétricas, uma coroa mínima entrelaçada. O mesmo desenho que ele já tinha visto em papéis da Fundación, nos selos antigos, na caixa do porto. Não vinha com bilhete, nem com “H.”
Era recado de que