Cada passo que Isabella deu em direção à sala de Pedro pareceu levar uma eternidade. O tapete macio parecia areia movediça, e o olhar de todos os executivos na sala de reuniões, visível através do vidro, queimava em suas costas. Ela fechou a porta atrás de si, o clique soando como o selar de uma tumba.
Pedro não se sentou. Permaneceu de pé, perto de sua mesa, e jogou a apresentação defeituosa sobre a superfície de mogno com um baque surdo e violento. A fúria dele não era quente e explosiva; era fria, concentrada e muito mais aterrorizante.
— Explique — ele ordenou, a voz baixa e letal.
Isabella engoliu em seco, o pânico ameaçando sufocá-la. Chorar, desculpar-se ou entrar em pânico só confirmaria a opinião dele de que ela era uma amadora. Ela se forçou a encontrar a mesma fibra que lhe garantira o emprego.
— Não há explicação, senhor Montenegro. O erro é indesculpável e a responsabilidade final é minha.
A resposta pareceu surpreendê-lo. Ele esperava desculpas, talvez até lágrimas. A aceitação total da culpa o desarmou por uma fração de segundo.
— Você tem razão, é indesculpável — ele rosnou, recuperando a compostura. — Você me fez parecer um idiota. Pior, fez a minha empresa parecer incompetente. Um detalhe, senhorita Clark. É nos detalhes que impérios são construídos ou destruídos.
— Eu entendo — ela disse, a voz surpreendentemente firme. E então, ela decidiu jogar. Não uma acusação, mas um fato. — Apenas para seu conhecimento e para que o erro não se repita, utilizei o modelo de apresentação "Protocolo Oriental", que me foi indicado pela Sra. Neves como o padrão para estes investidores.
Ela não culpou Verônica. Apenas relatou o fato, deixando que ele tirasse as próprias conclusões.
O maxilar de Pedro se contraiu. Um músculo saltou em sua mandíbula, e seus olhos escuros se estreitaram. Ele não disse nada sobre Verônica, mas um brilho gélido em seu olhar disse a Isabella que ele havia entendido perfeitamente a dinâmica em jogo. A raiva dele não diminuiu, mas o foco dela pareceu mudar.
Ele caminhou até a janela, dando-lhe as costas.
— Este foi o seu primeiro e último erro desta magnitude, senhorita Clark. Não haverá uma segunda chance para se explicar. Você está entendendo?
— Entendido, senhor.
— Ótimo — ele disse, virando-se. — A reunião foi suspensa e remarcada para as nove da manhã. Quero uma nova apresentação, perfeita, com dados atualizados até o fechamento do mercado de hoje. Quero também um resumo completo de tudo o que foi discutido até o momento da minha... interrupção. E, por último, quero um perfil detalhado de cada um dos investidores, incluindo seus históricos de investimento e interesses pessoais. Tudo isso na minha mesa, impresso e encadernado, até as oito da manhã.
Isabella sentiu o sangue fugir de seu rosto. Era uma quantidade de trabalho impossível para uma noite. Era um castigo.
— Não me importa se você tiver que passar a noite aqui para fazer isso. Agora saia da minha sala.
Ela saiu sem dizer mais uma palavra. No corredor, Verônica passou por ela, a caminho da sala de reuniões, e lhe lançou um olhar de falsa compaixão que era mais insultuoso que um sorriso de vitória. Naquele momento, Isabella entendeu. Aquilo não era apenas um emprego. Era uma guerra. E ela tinha acabado de perder a primeira batalha.
Mas a guerra não havia terminado.
Ela voltou para sua mesa, o corpo tremendo de adrenalina e raiva. Sentou-se e, em vez de se desesperar, sentiu uma estranha calma tomar conta de si. Uma determinação fria e cortante. Ele queria o impossível? Ela lhe daria o impossível.
As horas se passaram. O escritório se esvaziou, as luzes se apagaram, e logo apenas o brilho do seu monitor e o da fresta sob a porta de Pedro iluminavam o andar. A cidade lá fora se tornou uma galáxia de luzes distantes. Ela trabalhou com uma concentração que nunca experimentara, movida a cafeína e a uma teimosia feroz.
Perto da uma da manhã, quando seus olhos ardiam e seus dedos doíam de tanto digitar, a porta do escritório dele se abriu. Isabella nem levantou o olhar, focada demais em uma planilha complexa.
Passos suaves se aproximaram e pararam ao lado de sua mesa. Ela sentiu a presença dele, o cheiro sutil de seu perfume caro misturado ao ar noturno.
Sem dizer uma palavra, ele colocou uma xícara de porcelana fumegante ao lado do teclado dela. Era café, preto e forte, exatamente como ele gostava.
Ela finalmente ergueu os olhos, surpresa. Ele já estava se afastando, caminhando de volta para sua sala. Ele não olhou para trás.
— Montenegro — ele disse, a voz baixa no silêncio do escritório, antes de fechar a porta. — Meu café preferido é o Kopi Luwak. A antiga assistente nunca aprendeu.
A porta se fechou, deixando-a sozinha com o calor da xícara e uma confusão ainda maior em seu coração. Aquele pequeno gesto, aquela informação pessoal compartilhada no meio de sua punição, não era um ato de bondade. Era algo mais complexo. Era um reconhecimento. Um sinal de que, embora estivesse furioso com seu erro, ele via a força em sua resposta.
Isabella olhou para o café fumegante. Ela ainda estava na coleira, mas naquela noite, sentiu que a corrente havia ficado um milímetro mais longa. E isso era o suficiente para continuar lutando.