Capítulo 02 - O Batismo de fogo.

A pequena vitória de Isabella com o salmão não lhe rendeu um elogio, mas algo muito mais raro: o silêncio. Pelo resto da tarde, as ordens de Pedro continuaram, mas a borda cortante de sua voz parecia ter sido sutilmente lixada. Ele a observava mais, e ela sentia seu olhar em suas costas enquanto tentava, freneticamente, organizar a agenda para o mês seguinte.

Ela foi a última a sair do andar, exceto por ele. As luzes da cidade cintilavam lá fora, um universo silencioso e indiferente à sua exaustão. Enquanto desligava seu computador, ele saiu de sua sala, pasta de couro na mão. Ele parou por um momento perto da mesa dela.

— O acesso ao meu apartamento e à garagem foi enviado para o seu celular. Preciso que busque meus trajes na lavanderia amanhã antes de vir para o escritório — ele disse, sem preâmbulo.  A lavanderia abre às sete. Quero os trajes aqui até as oito. Isso significa que você começa o seu dia mais cedo.

Isabella piscou, absorvendo a informação. Sua vida pessoal, como ele havia prometido, estava se tornando secundária. — Sim, senhor Montenegro.

Ele fez um breve aceno com a cabeça e se virou para o elevador, deixando-a sozinha no silêncio opressor do 12º andar. Enquanto o cansaço pesava em seus ossos, uma nova e alarmante percepção se instalou: ela não tinha apenas um emprego; ela tinha um novo centro de gravidade, e ele se chamava Pedro Montenegro.

Os dias seguintes se estabeleceram em um ritmo brutal. Isabella aprendeu a decifrar os silêncios de Pedro, a antecipar suas necessidades e a navegar pelo campo minado de suas expectativas. Ela aprendeu que ele odiava repetições, que seu café tinha que ter exatamente a mesma cor todos os dias e que ele valorizava a eficiência acima de tudo. Aos poucos, o caos da mesa deu lugar à ordem, e ela começou a se sentir menos como se estivesse se afogando e mais como se estivesse aprendendo a nadar em um furacão.

Foi no final de sua primeira semana que ela conheceu a sombra.

Uma mulher alta, loira e vestida com um terninho Chanel que gritava poder e dinheiro, saiu do elevador e caminhou em direção à mesa de Isabella com a confiança de quem era dona do lugar. Seus olhos azuis, frios como gelo, a avaliaram de cima a baixo.

— Você deve ser a novata — disse a mulher, um sorriso que não alcançava os olhos. — Verônica Neves, Diretora de Operações. Eu trabalhava muito com a antiga assistente. Fiquei surpresa que Pedro contratou alguém tão... jovem.

— Isabella Clark — ela se apresentou, estendendo a mão.

Verônica a ignorou, o olhar já focado na porta do escritório de Pedro. — Ele está?

— Em uma teleconferência, mas deve terminar em breve — respondeu Isabella, a mão caindo sem jeito ao lado do corpo.

— Ótimo. Vou esperar aqui — disse Verônica, sentando-se em uma das poltronas de espera e cruzando as pernas, a postura impecável. — Um conselho, querida. Pedro não tem paciência para erros. Ele quebra as pessoas como gravetos. A última garota saiu daqui chorando e nunca mais foi vista. Apenas para você saber onde está se metendo.

A ameaça velada pairou no ar. Isabella sabia, instintivamente, que acabara de encontrar a antagonista de sua história.

A oportunidade de Verônica veio na tarde seguinte. Pedro convocou Isabella à sua sala.

— Tenho uma reunião com os investidores japoneses em uma hora. Preciso de uma apresentação impressa e encadernada com os dados do último trimestre. Os arquivos estão na pasta ‘Tóquio Invest’. Quero dez cópias na mesa da sala de reuniões em cinquenta minutos. Sem erros.

Era uma tarefa hercúlea. Isabella correu para sua mesa e mergulhou no sistema. Encontrou a pasta, mas havia dezenas de arquivos e planilhas. O tempo estava correndo.

Verônica se aproximou de sua mesa, um falso sorriso solidário no rosto. — Parecendo um pouco perdida, Isabella? Deixe-me ajudar. Para os investidores japoneses, nós sempre usamos o modelo de apresentação ‘Protocolo Oriental’. Está aqui nesta subpasta. Facilita muito.

Ela apontou na tela. Agradecida pela ajuda inesperada, Isabella abriu o modelo indicado, que já tinha o logotipo e o layout corretos, e começou a inserir os dados freneticamente. Imprimiu, encadernou e entregou as dez cópias na sala de reuniões com apenas dois minutos de sobra, o coração disparado.

Ela voltou para sua mesa, ofegante, sentindo uma onda de alívio. Tinha conseguido.

Dez minutos depois, a porta da sala de reuniões se abriu com uma força contida. Pedro estava parado no umbral, o rosto uma máscara de fúria gelada. Em sua mão, ele segurava uma das apresentações, a capa dobrada para trás. Em silêncio, ele apontou para o logotipo no topo da página. Era o logotipo antigo da Montenegro Corp, descontinuado há seis meses. Um erro de amador. Um erro que o fazia parecer um idiota na frente de investidores cruciais.

Os olhos negros dele encontraram os dela através do escritório silencioso. Sua voz foi baixa, mas cada palavra era uma navalha.

— Senhorita Clark. Minha sala. Agora.

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