Sophia Romano O frio da madrugada a envolveu como um lençol de gelo, apertando sua pele sensível com dedos invisíveis. Mas, ao contrário do desconforto, ela acolheu aquele arrepio com uma espécie de alívio estranho. Era como se o mundo quisesse lhe dar um consolo, um sopro de lucidez depois de ter se perdido completamente nos braços de Giovanni.As portas do clube Black Room se fecharam atrás de si com um suspiro metálico. Ela saiu de lá como uma sombra, o corpo ainda em brasa, mas a alma mergulhada em silêncio.Depois de tudo o que haviam vivido naquela noite, depois da intensidade da entrega, do olhar dele escuro de desejo, da forma como a tocou como se ela fosse uma extensão do próprio corpo… Sophia imaginou que sairia ao lado dele, que Giovanni lhe estenderia a mão, ou mesmo que apenas a puxaria para si como sempre fazia, firme, inevitável.Mas não. Ele havia sumido.Desaparecido no corredor como uma fumaça espessa que se dissolve no vento. Sem palavras, sem um toque, sem sequer
O silêncio dentro do carro era ensurdecedor. Nenhuma palavra, nenhuma música. Apenas o ronco contínuo do motor e os pensamentos fervilhando na mente de Giovanni como uma tempestade prestes a explodir. O couro do assento rangia sob o peso de seu corpo tenso, enquanto os dedos tamborilavam no apoio de braço com uma impaciência que só aumentava.A raiva ainda estava ali, pulsando sob sua pele. Mas não era dela, era dele. Ele não deveria ter olhado para trás, mas olhou. Viu Sophia se afastando pelos corredores do clube, os passos apressados, o sobretudo apertado contra o corpo como uma armadura mal colocada. Os cabelos ainda emaranhados da madrugada de prazer. As marcas dele ainda estão frescas na sua pele.E ali, por um instante, algo dentro dele cedeu. Trincou e isso o deixou furioso.Maldita seja.Maldito seja você, Giovanni.A lembrança dela em seus braços o torturava. O jeito como gemeu seu nome, como o corpo dela se curvava de prazer, como se moldava ao seu ritmo. O olhar úmido e p
O sol refletia nas águas cristalinas da piscina, e o ar morno da manhã trazia o cheiro familiar de protetor solar e folhas molhadas. O clube estava tranquilo, ainda cedo demais para a multidão que costumava preencher o local nos fins de semana. Sophia sentou-se na espreguiçadeira com um chapéu largo escondendo o rosto e óculos escuros cobrindo os olhos cansados. O maiô preto realçava suas curvas, mas a postura retraída deixava claro que ela não estava ali para se exibir. Estava tentando respirar.Ao lado dela, Amélia, sua melhor amiga, ajustava a toalha sobre o colo enquanto observava as duas meninas na beira da piscina.— Cuidado com os pés, Ângela! — alertou, com um tom mais carinhoso do que sério.Hanna e Ângela, ambas com cinco anos, riam como se o mundo fosse feito apenas de alegria e espuma de piscina. As duas usavam maiôs coloridos, com personagens de desenho animado, e chapéus de abas largas que balançavam a cada pulo desajeitado.— Eu sou uma sereia de verdade! — disse Hanna,
O apartamento de Giovanni estava mergulhado em um silêncio absoluto, como se cada parede compartilhasse de seu vazio. A única coisa que se movia era o gelo, derretendo devagar no fundo de um copo de cristal, deixando pequenas rachaduras sonoras no silêncio imóvel.Giovanni andava pela sala com a precisão de um homem que já havia transformado o ato de viver em um mecanismo automático. A camisa social preta se moldava ao corpo como uma armadura. O relógio de ouro ajustado ao pulso. Os cabelos penteados para trás, sem um fio fora do lugar. O rosto… inexpressivo. Polido. Indiferente.Ele não havia dormido, mas isso não era novo.Pensar em Sophia era algo que ele não se permitia mais. Tinha transformado sua ausência em uma ferida aberta que escondia sob roupas caras e expressões controladas. Cada parte do homem vulnerável havia sido trancada a sete chaves.Agora, só existia Giovanni Bianchi, o implacável, o dominador, o impiedoso, o estrategista que só conhecia números e poder e que havia
Salão de reuniões – Torre Bianchi – Andar 44O ambiente era impecavelmente refinado, silencioso, quase clínico.As paredes envidraçadas deixavam passar apenas a penumbra difusa da cidade, filtrada pelos vidros escurecidos. A mesa de mármore negro, extensa e imponente, refletia sutilmente a iluminação indireta do teto. Cada detalhe era milimetricamente calculado, desde os quadros discretos de arte moderna até o aroma suave de cedro que pairava no ar.Giovanni Bianchi estava sentado na cabeceira da mesa como se fosse parte do mobiliário. Estático, preciso, quase escultórico.Seu terno cinza-escuro era talhado para o poder. As abotoaduras de ouro brilhavam discretamente sob a luz. O cabelo, impecável, o rosto, frio, os olhos, atentos e vazios, como vidro à prova de sentimentos.Do outro lado da mesa, quatro executivos japoneses o observavam com reverência discreta. Movimentos comedidos, expressões neutras. Eram homens acostumados ao respeito e à hierarquia. E Giovanni, para eles, era um
O quarto estava mergulhado em penumbra, iluminado apenas pela luz suave da televisão, onde personagens coloridos cantavam sobre coragem, magia e amizade. O som era baixo, quase um sussurro no ar. Lá fora, a brisa da noite passava pela janela entreaberta, fazendo as cortinas dançarem num balé silencioso.Sophia estava deitada na cama com Hanna aninhada contra seu corpo. A menina, com os cabelos espalhados sobre o colo da irmã, lutava contra o sono. Seus cílios pesavam, os olhos piscavam devagar, mas ela insistia em ficar acordada.— Olha, Soph… é a parte que ela voa com o dragão… — murmurou, com a voz arrastada, afundando o rosto na camiseta da irmã.— Estou vendo, meu amor. Está tão linda. — Sophia respondeu baixinho, passando os dedos nos fios macios do cabelo da irmã.Era um momento simples. E, justamente por isso, era precioso. A presença de Hanna a ancorava. Fazia com que o mundo parecesse mais suave. Quando ela sorria, Sophia lembrava quem era. pensar que sua irmãzinha estava bem
Ao entrar no carro, o cheiro de couro novo e a música instrumental suave a envolveram de imediato. O motorista, o mesmo de antes, acenou com educação, mas não disse uma palavra. Apenas deu partida.Sophia encostou-se ao assento, tentando controlar a respiração, tentando ignorar o nó que se formava em sua garganta.A cidade passava pelas janelas como uma pintura em movimento. As luzes refletiam nas vitrines, o reflexo colorido dançava sobre seu rosto. Mas tudo que ela conseguia ver era ele.A forma como ele a tocou, a maneira como sussurrou seu nome e depois… o vazio. O silêncio, a partida sem explicação.O peito apertava e a tensão crescia. Ela mordia o lábio inferior, alternando entre expectativa e medo. Parte dela queria respostas. A outra… queria apenas ser tocada novamente. Possuída da maneira única que só ele conseguia fazer. E isso a deixava inquieta, vulnerável, ridícula.— Você é só um contrato. — ela murmurou para si mesma, quase como um lembrete.Mas nem ela acreditava mai
As palavras saíram como promessa e ameaça ao mesmo tempo.Havia algo mais bruto nelas, algo primitivo.Sophia não se moveu. Ela sentia o coração bater alto no peito, mas manteve o olhar firme. Sabia que, se desviasse, ele venceria.E, no fundo, ela não queria mais ser vencida, queria ser escolhida.— E o que acontece se… eu não quiser ser sua?Ele sorriu, lento, perigoso.— Você quer, Sophia. Até quando me desafia… você me deseja. Eu vejo nos seus olhos. Sinto no seu corpo. Você vibra quando eu te toco, sua pele implora por mim. Venha, me acompanhe. Giovanni se levantou e segurou nas mãos de Sophia, caminhou pela suite até abrir uma pequena porta de madeira, uma sala reservada. — Entre. Sophia entrou engolindo seco, e Giovanni virou a chave, trancando-a. A atmosfera ali dentro era diferente. Mais densa, íntima. As paredes acolchoadas em vinho profundo, o aroma sutil de couro e âmbar. A iluminação era baixa, como um sussurro constante no escuro. E no centro, uma poltrona grande de