Eduardo
Nunca imaginei que o som de um parafuso girando pudesse significar tanto.
O clique metálico, o ranger suave da madeira… tudo isso agora parecia música.
O quarto da bebê tomava forma, e cada pequeno detalhe carregava uma espécie de promessa silenciosa: de proteção, de paz, de um recomeço que eu não ousava sonhar meses atrás.
Sol estava em pé no meio da bagunça, o cabelo preso num coque torto, o rostinho pintado de lilás e azul.
— Papai, olha! Eu fiz uma estrelal — disse, apontando para o adesivo torto que grudara na parede.
— Ficou linda, meu amor — respondi, sorrindo. — Igualzinha à sua mamãe.
Lua, recostada na poltrona, ria devagar, com a mão sobre o ventre que já denunciava cada movimento da pequena.
Ela parecia mais leve. Mais viva.
Mas havia algo em seu olhar… um cansaço que eu fingia não ver.
Nos últimos dias, ela se esforçava para fazer mais do que devia — subia em banquinhos, dobrava roupas, pendurava quadros.
“Só mais um pouquinho”, ela dizia.
Mas aquele pouquinho sem