Capítulo 93, luz que vem depois da escuridão.
Visão de lua
O tempo parece ter mudado de ritmo desde que o médico pronunciou aquelas palavras: “repouso absoluto”.
Elas ficaram ecoando dentro de mim, como se o próprio ar tivesse se tornado mais pesado.
De repente, tudo o que era simples — levantar da cama, preparar um café, andar até o jardim — se tornou um luxo que eu não podia mais me permitir.
Eduardo transformou a casa num quartel de amor.
Sol, numa pequena enfermeira que levava ordens muito a sério.
E eu, num campo de batalha entre a paciência e o medo.
— Mamãe, a bebel tá ouvindo eu fala? — Sol pergunta, encostando a orelha na minha barriga.
— Tá sim, meu amor. Ela ouve tudinho.
— Enton eu vou cantá pra ela, tá?
E começa a cantar, desafinada, enrolando as palavras, misturando versos que inventa na hora.
A voz dela parece curar o ar.
Tem dias em que a dor e o medo se tornam menores só de ouvi-la cantar “A eslilinha da mamãe e do papai, dorme na baliga, dorme devagá...”.
Eduardo sempre observa de longe, com aquele olhar que mi