Capítulo 91, Quando o medo insiste em ficar.
narrado por Lua
O sol da tarde atravessava as cortinas do quarto, riscando a parede lilás com um tom suave, como se o céu tentasse nos dizer que a vida, apesar de tudo, ainda podia ser bonita.
Havia cheiro de tinta fresca, de madeira nova e de promessas guardadas entre brinquedos e almofadas.
O berço ainda estava pela metade, e Eduardo lutava com um parafuso teimoso, enquanto Sol, com seu jeitinho impaciente, misturava tintas num potinho e dizia que a parede “ficou linta demais, mamãe”.
Eu sorria, observando aquela cena que parecia saída de um sonho que um dia eu achei que nunca mais teria.
Mas, mesmo no meio dessa calma, havia algo que me inquietava — o olhar de Amber.
Ela estava ali, sentada na beirada da poltrona, com as mãos entrelaçadas e o sorriso preso, como se o mundo inteiro pesasse sobre os ombros dela.
Amber sempre foi boa em disfarçar sentimentos, em vestir coragem por cima do medo.
Mas eu a conhecia o suficiente para saber quando o silêncio dela gritava.
— Você tá quieta