Capítulo 85, Entre a vida e o vento

(Visão de Lua)

Tudo é som.

Som de vento, som de metal retorcendo, som do meu próprio coração batendo em um ritmo irregular, desesperado.

Abro os olhos devagar.

O teto é de concreto. A luz, fraca. O ar, pesado.

Por um instante, não sei se estou viva ou sonhando.

Tento me mexer, mas uma dor aguda lateja na cabeça.

Quando toco, sinto o sangue seco.

O corte é fundo — lembro da coronhada, do impacto do revólver batendo contra o meu crânio, e o gosto de ferro invadindo minha boca.

A cena volta como um raio:

Thiago, o olhar enlouquecido, o hálito de álcool, o sorriso cínico.

Ele se aproximando, me segurando pelo rosto, exigindo um beijo.

Meu corpo inteiro gritando não.

E a mordida — a mordida que dei na boca dele com tanta força que senti o sangue dele escorrer nos meus lábios.

Depois veio a coronhada.

A dor.

O escuro.

Agora acordo aqui, em outro lugar.

Não há fogo, nem fumaça.

A explosão… foi em outro galpão.

Ele mentiu pra Eduardo.

Sento devagar, o corpo tremendo.

As mãos estão amarradas,
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