(Visão de Lua)
Tudo é som.
Som de vento, som de metal retorcendo, som do meu próprio coração batendo em um ritmo irregular, desesperado.
Abro os olhos devagar.
O teto é de concreto. A luz, fraca. O ar, pesado.
Por um instante, não sei se estou viva ou sonhando.
Tento me mexer, mas uma dor aguda lateja na cabeça.
Quando toco, sinto o sangue seco.
O corte é fundo — lembro da coronhada, do impacto do revólver batendo contra o meu crânio, e o gosto de ferro invadindo minha boca.
A cena volta como um raio:
Thiago, o olhar enlouquecido, o hálito de álcool, o sorriso cínico.
Ele se aproximando, me segurando pelo rosto, exigindo um beijo.
Meu corpo inteiro gritando não.
E a mordida — a mordida que dei na boca dele com tanta força que senti o sangue dele escorrer nos meus lábios.
Depois veio a coronhada.
A dor.
O escuro.
Agora acordo aqui, em outro lugar.
Não há fogo, nem fumaça.
A explosão… foi em outro galpão.
Ele mentiu pra Eduardo.
Sento devagar, o corpo tremendo.
As mãos estão amarradas,