Na manhã seguinte ao evento, Laís caminhava pelas ruas do centro com um pressentimento estranho. O sol estava alto, o comércio começava a abrir e tudo parecia normal. Mas não estava. Sentia nos olhares desviados, nas palavras cortadas no meio, nos sorrisos ligeiros de algumas pessoas que a cumprimentavam.
Passou em frente à padaria e ouviu, sem querer, uma senhora comentar com outra:
— ...essa moça da ONG, a que tá com o Eduardo... dizem que tem dedo de política no meio.
— E que roubou ele da filha do prefeito, né? — respondeu a outra, como quem carrega verdades no tom baixo.
Laís não reagiu. Continuou andando. Mas o peito apertou. A cidade era pequena demais para segredos. E agora, tudo o que ela queria proteger estava exposto.
Na ONG, Gabriela percebeu o silêncio dela ao chegar. Laís tentou manter o foco no trabalho, mas os olhos vazavam uma inquietação difícil de conter.
— Quer falar sobre ontem? — Gabriela perguntou, enquanto organizavam os cartazes do evento.
— Não sei se quero f