Laís
As manhãs em Santa Amora nunca tinham sido tão contraditórias. Eu acordava com o corpo ainda marcado pelos toques de Eduardo, mas a mente carregava cicatrizes que não cicatrizavam com o mesmo ritmo. Ele dormia ao meu lado, respiração calma, braço pesado sobre minha cintura, e mesmo assim um pensamento insistia: “e se tudo isso escorrer pelos dedos?”.
Levantei devagar, tentando não acordá‑lo. No espelho do banheiro, meu corpo exibia marcas da noite: beijos no colo, arranhões discretos nos quadris, como lembranças que doíam e acalmavam ao mesmo tempo. Lavei o rosto, mas não consegui lavar a dúvida.
Na ONG, tentei me esconder no trabalho, mas Gabriela não deixava passar nada.
— Você anda com olhos de lua cheia, Laís. Brilha, mas parece prestes a transbordar.
— É só cansaço, Gabi.
— Cansaço não deixa marca roxa no pescoço, amiga — ela retrucou, divertida, mas depois suavizou o tom. — Só cuida do coração. Amor bom é farol, não vendaval.
Rafaela se aproximou, jogando uma pilha de