Laís
A segunda-feira chegou com cheiro de papel novo e nervos velhos. O e-mail da Controladoria aterrissou às 08:14 com um título tão burocrático quanto ameaçador: “Relatório Preliminar – Visita Técnica”. O coração deu um pulo; meus dedos hesitaram um segundo antes de tocar na tela.
Nanda nos reuniu na sala grande. As janelas abertas deixavam entrar o barulho da praça, e, na mesa, o café de tia Zuleica fumegava ao lado de um prato de broas. Eduardo chegou por último, encostou discretamente a mão nas minhas costas; foi o suficiente para eu lembrar de respirar.
— Vamos lá. — disse Nanda, abrindo o PDF no projetor.
A leitura começou seca, mas foi amolecendo ao longo dos parágrafos. Havia ali um retrato que não nos diminuía: “boa mobilização comunitária”, “processos transparentes em linhas gerais”, “comunicação acessível à população”. O alívio veio em ondas silenciosas, até que surgiram as recomendações: padronizar datas e versões de relatório; criar um protocolo de registro de voluntaria