Laís
A manhã seguinte amanheceu com uma claridade que doía. Na ONG, o vai‑e‑vem de gente parecia mais alto do que o normal, e cada voz esbarrava no que tinha sobrado da noite anterior. Eu tinha dormido pouco. A frase “eu te amo” ainda martelava a cabeça como chuva insistente.
— Cara fechada de quem foi atingida por meteoros — decretou Gabriela, encostando o quadril na minha mesa.
— Eu só não dormi direito — respondi, tentando sorrir.
Rafaela chegou logo atrás, com o celular erguido.
— Informação de utilidade pública: vocês dois precisam conversar. A cidade já começou a inventar fanfics piores do que as minhas legendas.
— Não ajuda, Rafa.
— Ajudo sim — disse Gabi, mais suave. — Fala com ele, Laís. O silêncio é ótimo pra poesia, péssimo pra namoro.
Eduardo passou pelo corredor com uma caixa de materiais. Parou, como se tivesse ensaiado o gesto a manhã toda.
— Podemos falar depois do expediente? — perguntou.
Assenti. O coração, afoito, assinou por mim.
***
O dia correu em modo