Laís
O dia amanheceu com céu encoberto e vento úmido, como aviso. Na ONG, montávamos caixas do mutirão quando Nanda anunciou:
— Às quatro, reunião com a empresa do tio do Felipe. Sem atrasos.
O nome ficou no ar. Senti o estômago apertar. Gabriela apertou minha mão.
— Eu fico do seu lado — sussurrou. — E, se precisar, solto piada que derrete cara feia.
Eduardo passou com um rolo de banner. Ao ouvir “Felipe”, a mandíbula travou por um segundo. Controlou-se.
— Se precisarem de mim, estarei na criação — disse, simples.
Queria que tudo fosse assim: claro e simples. Mas o passado raramente é gentil.
***
Às quatro, o salão estava pronto. Nanda organizou cadeiras; Rafaela ajustou o tripé; Leandro revisou slides. A porta abriu, e Felipe entrou com pasta na mão, perfume conhecido e sorriso de quem sabe o próprio efeito. Cumprimentou todos, mas o olhar ficou em mim tempo demais.
— Boa tarde. É bom ver vocês outra vez — disse.
A reunião correu protocolar até ele colorir o script:
— Laí