Máscaras Queimadas

Na quinta-feira, o mundo parecia menos silencioso. O "casal improvável" se tornara o assunto principal no aplicativo da escola — fotos, especulações, até enquetes sobre quanto tempo iríamos durar.

Victor fingia não se importar, mas a mandíbula dele ficava tensa toda vez que alguém comentava. Eu, por outro lado, tentava me manter firme. Discreta. Fiel ao plano. Mas havia algo que crescia entre nós que não estava no contrato — um tipo de provocação sutil, elétrica, prestes a explodir.

À tarde, ele me mandou uma mensagem inesperada:

“Me encontra na cobertura da empresa às 19h. Preciso que me ajude a encerrar uma reunião.”

Achei estranho, mas fui. Cheguei com a roupa que tinha — jeans, blusa preta simples, mochila — e entrei no prédio luxuoso da Aguiar & Filho com a postura de quem sabia que estava deslocada. No elevador, o espelho me mostrou alguém diferente. Alguém que fingia amar um cara que estava mexendo demais com o que eu acreditava ser controle.

A porta da cobertura se abriu. Victor me esperava sozinho, encostado numa das paredes de vidro com vista para a cidade acesa.

— Preciso que você entre comigo ali — apontou para a sala de reuniões de vidro. — Meu pai e os diretores estão me pressionando sobre o noivado. Se você estiver comigo… eles recuam. Eles não vão querer escândalo.

— Isso está ficando maior do que devia — murmurei.

— É exatamente por isso que funciona. Vamos. Agora.

Entramos juntos. A sala estava cheia de executivos engravatados e o pai dele, Otávio Aguiar, ocupava a ponta da mesa — postura imponente, olhos calculistas, voz gelada.

— Quem é essa? — ele perguntou, sem disfarçar o desprezo.

Victor pegou minha mão. Apertou. Não era só encenação. Era firme. Quase possessivo.

— Essa é Isabela Martins. Minha namorada. E antes que me forcem a aceitar qualquer acordo comercial fantasiado de romance... saibam que já estou comprometido.

Um silêncio cortante caiu. Otávio olhou para mim como se eu fosse um erro estético.

— Nunca ouvi falar dessa garota.

— Não precisa ouvir, precisa respeitar. — Victor respondeu, com o tom mais afiado que eu já tinha ouvido.

O clima ficou tenso. Os homens se entreolharam. Alguém pigarreou. Alguém digitava no celular embaixo da mesa.

Otávio se levantou. Caminhou até nós. Me encarou. Falou baixo, mas em um tom que soava como ameaça:

— Você acha que pode brincar de namorar meu filho? O que quer? Dinheiro? Status?

— Não quero nada — respondi, mantendo o olhar firme. — Só estou aqui porque ele me pediu.

— Então saiba que tudo tem preço. E tem consequências.

Victor se colocou à minha frente.

— Ela é minha escolha. Pessoal. Ponto.

— Isso não está no contrato — retrucou o pai.

— O contrato agora inclui liberdade emocional. Me deixa lidar com minha vida, ou começa a perder controle da sua empresa.

Otávio se calou. Não porque aceitou. Mas porque entendeu que naquele momento, diante dos outros, não podia perder.

Saímos juntos, e Victor me puxou para a varanda da cobertura. O céu já estava escuro. A cidade brilhava como se quisesse esconder os erros de quem mandava nela.

— Desculpa te expor — disse ele.

— Você me contratou. Isso entra no pacote.

— Mas você foi mais do que eu esperava — confessou, olhando para mim com aquele olhar... quente. Intenso. E, acima de tudo, real.

Eu devia responder com frieza. Com profissionalismo emocional. Mas não consegui.

— Achei que você ia me usar como escudo. Não como escândalo.

Ele se aproximou. Devagar. E quando sua mão tocou meu rosto, senti que o contrato estava prestes a se romper por dentro.

— Se eu te beijar agora... vai parecer encenação?

— Depende de quem estiver vendo — murmurei.

— E se formos só nós?

Fiquei em silêncio. A cidade lá embaixo seguia indiferente. Mas entre nós, tudo queimava.

Antes que eu pudesse responder, ele se afastou — num gesto rápido, quase doloroso.

— Ainda não. Não hoje.

— Por quê?

— Porque se eu beijar você agora, não vai ser parte do contrato. E isso me assusta.

Ele me deixou ali, com o coração disparado e a certeza de que o contrato, por mais sólido que fosse, não sustentaria o que estava por vir.

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