A festa da empresa Aguiar & Filho acontecia uma vez por ano no hotel mais luxuoso de São Paulo. Era o tipo de evento onde cada olhar podia significar uma negociação, e cada sorriso, uma estratégia.
Eu nunca imaginei estar ali. Mas Victor insistiu. Disse que fazia parte do acordo, que todos esperavam “o casal Aguiar” — e eu, mesmo sem saber que roupa vestir, aceitei.
Entrei de braços dados com ele, vestindo um vestido preto emprestado de uma amiga, com decote elegante e fenda discreta. Victor parou, me olhou como se não reconhecesse a garota ao lado dele, e soltou:
— Se você entrar assim, talvez eu não consiga manter a fachada de namoro falso.
— Então não entre — provoquei, com um sorriso que não usei por segurança, mas por desejo.
O salão era todo em dourado e branco, luzes difusas e um aroma caro no ar. Victor não me soltava. E não era só por encenação. Era como se cada toque dele fosse propositalmente lento — como se o contato o ajudasse a manter o controle.
— Quero te apresentar a alguns parceiros — disse, puxando-me para perto de um grupo de empresários. Mas antes que chegássemos, Otávio Aguiar apareceu.
— Você continua com isso? Essa farsa? — disse, ignorando protocolos.
Victor se virou com calma, mas firmeza nos olhos.
— Ela está comigo. E se continuar chamando de “farsa”, eu começo a tratar seus acordos como piadas também.
— Ela não pertence a esse mundo — retrucou Otávio. — É instável. Irrelevante.
Antes que Victor respondesse, eu decidi.
— E mesmo assim, todos estão olhando pra mim — disse com um tom suave e cortante. — Isso deve significar algo.
Otávio se calou. Victor me segurou pela cintura. Com força. Com proteção. Com desejo camuflado por necessidade.
—
Mais tarde, escapamos do salão e subimos para o terraço do hotel. A brisa era leve, o som da cidade abafado pelos vidros ao redor.
Victor se encostou na grade de proteção. Os olhos em mim. A postura mais solta. Mais crua.
— Você gosta de provocar — disse ele.
— Só quando vale a pena — respondi, caminhando até ele.
A distância entre nós sumiu. Estávamos próximos demais para mentir. Ele passou o dedo pela minha clavícula exposta, lenta e discretamente.
— Isso vai sair do controle — sussurrou, com o olhar preso no meu. — E não quero que você se machuque.
— Já estou me machucando. Cada vez que você finge que não quer.
Ele tocou minha cintura com as duas mãos. Me puxou devagar. Nossos rostos estavam próximos demais para que houvesse dúvidas.
— Se eu te beijar agora, não vou parar — disse, como se estivesse pedindo autorização para quebrar o acordo.
— Então para de falar e me mostra que não é só contrato.
O beijo veio com urgência contida. Os lábios se encontraram com fome, mas também com o carinho de quem já queria aquilo há dias. Ele me encostou na parede de vidro, sem pressa, mas com intensidade. A respiração dele na minha pele. A mão deslizando pelas curvas do meu corpo, com respeito e desejo na mesma medida.
E aí, em meio ao calor, Victor parou.
— Tem uma coisa que você precisa saber. Antes de continuar.
— Fala.
— O contrato... não foi ideia minha. Foi do meu pai. Ele achou que, se eu me envolvesse com alguém “inofensiva”, poderia me manipular mais facilmente.
O choque me fez recuar. Ele tentou me segurar. Mas eu me afastei.
— Então eu sou parte do plano dele?
— Você era. Mas não é mais. Eu mudei tudo. Eu me perdi no seu jeito. E agora... não sei como sair disso sem te perder também.
—
Fiquei ali, olhando para ele, com o coração dividido entre o desejo e a raiva. O beijo tinha sido real. Mas o contrato? Era mais sujo do que eu pensava.
E ali, sob o céu da cidade, decidi: eu não seria mais uma peça no jogo dos Aguiar. Se Victor me queria, teria que me querer sem cláusulas.