Narrado por Victor
Vieram mais papéis do advogado do meu pai. Multiplicação de carimbos. As frases pareciam coladas umas nas outras: “reparação de danos”, “retirada imediata”, “pena de multa”. Meu advogado respondeu no tom certo. Eu fui ao parque, sentei num banco e observei um menino empurrando outro em um balanço. “Mais alto!” O que empurrava dizia: “Eu te seguro.” Fiquei ali, idiotamente emocionado, pensando em como essa frase é a versão mais antiga do amor. Depois, uma senhora se sentou ao meu lado e abriu um pacote de biscoitos. Ofereceu um. Aceitei. “Você é o moço do filme”, ela disse. “Sou.” “Obrigada por falar.” “Eu que agradeço por ouvir”, respondi. Voltamos ao silêncio. Eu mastiguei devagar e senti uma paz quase engraçada. Às vezes é isso.No e-mail, uma mensagem da produção de um programa popular: queriam “um momento emocionante” com meu pai, encontro ao vivo, “reconciliação em rede nacional”. Apaguei sem responder. Nem tudo que brilha é chance; às vezes