Narrado por Victor
Passei dias sem abrir matérias sobre mim. Descobri o prazer de não clicar. Em vez disso, escrevi uma crônica sobre um senhor que planta manjericão na janela do ônibus. Eu inventei o senhor; queria treinar o músculo de mirar o cotidiano. Lembrar dos azuis que não são só escuros. Pouca gente leu. Foi um alívio. Às vezes, quero escrever para três: para mim, para Isabela e para alguém que ainda não sei quem é.Meu pai não sumiu — homens como ele persistem como manchas em camisa branca. Mas a voz dele agora chega como TV no quarto ao lado: incomoda, não define minha cena. Não quero mais convencê-lo. Convencer rouba anos. É tentar reescrever um livro que não me pertence. Devolvi o livro à estante. Escrevo o meu.Encontrei o garoto de BH de novo, meses depois. Cabelo cortado, sorriso mais seguro. “Entrei na terapia”, disse. “Queria te agradecer.” Eu respondi: “Eu só te mostrei uma porta. Você atravessou.” Ele sorriu de um jeito que deu vontade