Miguel tinha tudo para ser alguém de prestígio. Tinha acabado de se formar em medicina com louvor, era carismático, e muito querido, até pretendia se casar com Malú a mulher por quem fora apaixonado durante toda a sua vida. Porém a inveja daqueles que o rodeia transformaram sua vida em um verdadeiro inferno. Ao sofrer um naufrágio proposital e ficar oito anos perdido em uma ilha deserta, tudo o que ele mais queria era vingar-se daqueles que o fizeram mal, mas a vingança é perigosa, ela corrói por dentro, afeta, castiga, amargura, e no final o sentimento de injustiça prevalece. Será Miguel capaz de passar por cima de sentimentos tão profundos? Será capaz de recomeçar com tantas marcas dessa traição? Poderá enfim viver a vida que lhe fora negada!? Ou será que nem mesmo o amor poderá tirar esses sentimentos de seu coração? Amor, ódio ou vingança, qual desses caminhos ele irá escolher!?
Leer másO vento soprava gelado naquela ilha. O som do mar, o mesmo que acalmava, irritava-o. Miguel se sentou abraçando as pernas, balançava-as como o restante do corpo no mesmo ritmo... Lento. Ele batucava os dedos no joelho enquanto observava a espuma branca que batia de encontro as rochas. Com os olhos fixos no mar agitado devido a uma tempestade na noite anterior, Miguel chorava.
Sentia-se mais solitário do que nunca. Nessa manhã, nem o sol e nem os pássaros daquela ilha deram o ar da sua graça, apenas nuvens, chuva e a solidão. Miguel fechou os olhos e suspirou, com o coração pesado e cansado de saudades.
Ele escutava cada gota de chuva bater de encontro às folhas, era para ser reconfortante, se não fosse tão solitário.
Afinal, ele não sabia como havia parado ali. Não sabia quem era, ou o que havia acontecido, mas, dentro de si, um vazio o atormentava ferozmente.
Mesmo sem querer, lágrimas começaram escorrer por sua face, ele apenas as deixou rolar, ninguém o veria sendo fraco mesmo, a não ser a chuva, a ilha e os animais a sua volta.
Fazia tempo que Miguel não escutava o som da sua própria voz. Ainda no início, quando chegou ali anos atrás, ele ainda subia em um penhasco e gritava na esperança de ser ouvido, mas isso nunca chegou a ocorrer.
Quase não falava mais, e, às vezes, até esquecia como era o som de sua voz, afinal, era um desperdício de tempo, ninguém o ouviria mesmo.
O que mais o atormentava era não se lembrar de seu passado, de como veio parar ali, se tinha ou não alguém que sentisse saudade dele. Porém, ele sentia falta de alguém, mas não conseguia saber quem. Sentia o seu cheiro doce, sentia estar dentro dela, sentia suas mãos tocando seu corpo, seus lábios beijando os seus, mas tudo não passava de delírios. Delírios de uma mente prestes a enlouquecer de vez pela falta de companhia.
Assim que a chuva passou, Miguel se levantou, espreguiçou-se e começou a recolher pedaços de coqueiros e folhas que o vento havia trago.
Limpou a frente de seu abrigo, construído de folhas de coqueiros, alguns pedaços de árvores caídas e restos de algumas embarcações que chegavam à praia.
Os pássaros, finalmente, começaram a aparecer para reconfortá-lo um pouco, seus únicos companheiros estavam começando a sair dos ninhos e espreguiçavam-se, chacoalhavam-se e começavam a gorjear; ele sorriu para um João-de-barro que insistiu em construir seu ninho em cima de sua casa, esse era seu amigo mais inseparável naquela ilha.
Pegou um pedaço de madeira e adentrou a floresta densa, a qual ele ia com frequência, nunca viu animais selvagens por ali, somente pássaros e alguns peixes que às vezes pulavam na areia da praia.
Era cada vez mais difícil para Miguel se concentrar em algo que não fosse esse sentimento de saudade. Saudade de alguém que ele nem sabia quem era, mas que sentia falta, mais do que tudo.
As lembranças de dias que ele não sabia se viveu sempre invadiam sua mente, deixando-o triste e desesperado. Aceitar o maldito destino de estar ali perdido, e ainda sem se lembrar de nada, não era fácil. Sempre se perguntava como ele havia parado ali, quem ele era, quem ele deixou para trás e se um dia, conseguiria sair dali e retornar para seu lar, caso ele tivesse algum.
Maldito dia!, disse mentalmente por fim, tentando deixar de lado os pensamentos. Miguel andou despreocupado, cutucando o chão com aquele pedaço de pau.
Ele estava indo para o lago no meio da ilha, com seu fiel amigo João-de-Barro que sobrevoava a cabeça dele, gorjeando sem parar.
— Apesar da solidão, tudo aqui é bonito, não é mesmo, João? — sua voz estava diferente, mais rouca do que de costume.
Essa era uma das poucas vezes que ele falava, apenas quando encontrava o João-de-Barro, o qual, às vezes, ele até esquecia que era um pássaro. Como ele queria que o pássaro pudesse lhe responder.
João-de-Barro, que antes sobrevoava a cabeça de Miguel, pousou em seu ombro.
— Gostaria de saber como veio parar aqui... — disse, dando de ombros para continuar sua caminhada. Assim que chegou à lagoa, o pássaro saiu de seu ombro e pousou elegantemente em um tronco de uma árvore.
— Gostaria que falasse também, não me sentiria tão sozinho.
Apesar de ter muitas folhas dentro daquela singela lagoa, ela era bonita, sua água era de um tom de azul que ele não entendia.
As árvores ao redor davam um refúgio do calor, suas raízes se trançavam umas nas outras formando pequenas poças, onde os pássaros da ilha tomavam banho. Miguel se sentou sobre uma dessas raízes, olhou ao redor e suspirou, o pequeno barranco escorria a água da chuva, as flores que nasciam ali eram pequenas e de cores acobreadas.
Sobre as pedras mais à frente, pássaros os observavam curiosos, a mata tomava grande parte desse lugar, tornando alguns insetos visíveis.
Miguel se levantou e despiu-se. Em seguida, entrou na lagoa. A água estava fria, mas devido ao calor, seu corpo agradeceu o mergulho.
Ele foi até o fundo e segurou a respiração o máximo que pode, ele gostava disso, era nessas horas que não sentia o peso da saudade, nem a dor no coração que o acompanhava constantemente. Assim que submergiu, Miguel boiou e ficou ali de braços abertos, apenas deixando seu corpo flutuar. Ele queria esvaziar a mente, esvaziar o coração.
E conseguiu, não pensava em absolutamente nada. Apenas se dedicava a escutar cada nota dos seus amigos pássaros que estavam ao seu redor.
Uma pequena brecha entre as folhas das árvores fez com que o sol batesse em seu rosto, fazendo-o ficar em pé. Mas seus pés não tocavam o fundo, por isso, ele nadou até a beirada do lago, pegou seu short rasgado, que mais parecia com um pedaço de pano velho, e andou nu entre a floresta.
Foi à uma bananeira, arrancou algumas bananas maduras e voltou ao seu abrigo.
Assim que a noite chegou, ele acendeu uma fogueira bem próxima à entrada da sua cabana, sentou, comeu algumas bananas assadas e observou o mar.
Pensou que se a solidão tivesse um som, seria esse... o barulho do mar.
LUCAS acordou naquela manhã, com uma dor no peito, toda aquela espera, todo aquele desprezo o deixou abalado. Ele não entendia o porquê ser deixado para trás, não entendia o porquê ninguém o amava como ele realmente merecia. Na mente de Lucas, ele que merecia toda a atenção, ele merecia que todos seus desejos e vontades fossem realizados, ele detestava quando era contrariado e quando as coisas não saíam ao seu modo.Lucas sabia que era frio, calculista, muitas das vezes era insensível, era inescrupuloso e um transgressor de regras sociais e morais. Ele sabia que passaria por cima de qualquer um para satisfazer seus interesses, Lucas não era louco, ele sabia exatamente o que fazia para atingir seus objetivos.Ele sabia que matar Miguel era necessário, que subornar o perito no barco também, sabia que roubar órgãos e vender no mercado negro er
MIGUEL estava em seu quarto, ele andava de um lado para o outro tentando montar um plano para que Lucas caísse, foi então que algo veio em sua mente, ele pegou o telefone. Mais do que nunca precisaria da ajuda de seus amigos para que seu plano desse certo.— Hospital San Josef, boa noite em que posso ajudar? — disse uma das recepcionistas ao telefone de uma forma simpática.— Boa noite, gostaria de falar com Doutor Juan Hernandez. — Miguel disse sem se preocupar em disfarçar a voz.— Quem gostaria? — ela perguntou, olhando no telefone o ramal da sala do Doutor.— Diga a ele que é um velho amigo, por favor!— Tudo bem. — Miguel escutou um suspiro pelo telefone. — Só um minuto irei fazer a transferência, aguarde na linha.— Ok.Depois de alguns minutos, uma voz familiar atend
Sooner or later the lights up aboveWill come down in circles and guide me to loveI don't know what's right for meI cannot see straightI've been here too long and I don't wanna wait for itChristina Aguilera, A Great Big World - Fall On MeMIGUEL estava com seu amigo João no jardim da casa de seus pais tomando sol, era de manhã; após o quase encontro com Malú, ele não saiu mais de casa. Dois meses então passaram voando e cada dia ele se esforçava para se recuperar porque ele queria mais que tudo voltar para ela, ser dela sem que nada mais impedisse.— O que está pensando, menino? — Dora se sentou ao lado e passou as mãos nas costas de Miguel, ele deitou a cabeça no ombro daquela senhora gentil, que ajudou sua mãe a criá-lo.— Malú. — disse apenas.<
— Miguel...MALÚ acordou sobressaltada, tinha sonhado com Miguel. Ele havia deixado um beijo carinhoso em sua cabeça e saído. Ela tinha que parar com isso, tinha que entender que a vida segue, que as coisas por mais que ela não queira mudam. Estava na hora de aceitar o fato de que Miguel morreu e não voltaria, por mais que isso a machucasse, ela precisava seguir em frente.Ela colocou o porta-retrato de Miguel no lugar, porém ainda o olhava com intensidade, sabia que nunca mais amaria ninguém. Miguel era especial para ela, ele era sua alma gêmea, era aquela pessoa que seria para sempre, e pensar em amar outra pessoa para ela, seria perda de tempo, pois ela nunca amaria alguém como amou Miguel.O amor pode ferir, mesmo quando ele cura, amar não é sobre querer amar alguém, e sim sobre saber os motivos que faz você amar aquela pessoa, amar é compreend
MIGUEL estava com uma pequena gaiola na mão. Estava esperando seu voo de volta finalmente para casa, ele estava inquieto e nervoso assim como seu amigo João que piava sem parar dentro da gaiola. Miguel levantou o pano que o cobria e o passarinho veio para perto dele.— Preciso que se acalme, amigo, nós vamos para a casa. — O passarinho se esfregava na grade da gaiola como um gatinho manhoso pedindo atenção de seu dono. — Você vai comigo na cabine, então se acalme, não irei te abandonar.— Acho que é agitação demais para ele. — Matias disse, sentando-se na cadeira ao lado de Miguel.— Também acho, ele está estressado. — Miguel abriu a portinha da gaiola e colocou a mão lá dentro. O João-de-barro mais que depressa subiu em sua mão e ajeitou-se nela dormindo em seguida.— Estou ven
LUCAS não se conformava em ser abandonado assim. Nenhuma ligação, nenhuma satisfação, nada! O silêncio o deixava furioso. Aqueles dias longe dos Alazar e com Malú expulsando-o constantemente do quarto de Maicon toda vez que ele entrava só o deixava muito irritado. Estava sentado em seu sofá com um copo de uísque na mão, seus pensamentos fervilhavam. Após tomar o último gole da bebida, ele jogou o copo contra a parede levando as mãos à cabeça e sentindo as lágrimas queimarem seus olhos.— Por quê? Por que fazem isso comigo? — perguntou aflito e cheio de mágoa. — Nunca os tratei mal, nem os desprezei, eles são minha família, por que me deixaram para trás?Lucas se levantou com uma nas mãos na cabeça e a outra na cintura, começou a andar de um lado para o outro, tentava
Último capítulo