O dia estava claro demais para o tipo de tempestade que se aproximava.
Miguel entrou na antiga casa da família com passos firmes e pesados, como se cada passada marcasse o início de um julgamento. O silêncio ali era traiçoeiro. Tudo parecia no lugar , os móveis elegantes, os quadros bem escolhidos, os vasos com flores frescas, mas havia um cheiro sutil de podridão no ar. E ele sabia exatamente de onde vinha.
Nina apareceu no topo da escada. Cabelos presos com perfeição. Vestido discreto. Elegante. Fria como gelo.
— Você voltou mais cedo da viagem, querido .
Ela disse, com a voz doce, manipuladora, como quem ainda tenta manter a farsa.
Miguel não respondeu de imediato. Apenas encarou.
— Você sempre foi boa com palavras, Nina. Mas hoje, elas não vão te salvar.
Ela desceu um degrau com leveza, mantendo o tom sereno.
— Não entendo essa hostilidade. O que está acontecendo?
Ele tirou um envelope do bolso do blazer e jogou sobre a mesa de centro da sala. A batida do papel pareceu um trovão n