“Às vezes, a mentira não precisa gritar. Basta sussurrar no ouvido certo.”
A sala da ONG estava quase vazia no fim da tarde, banhada por uma luz âmbar que atravessava as cortinas como véu antigo. Anyellen terminava de revisar os relatórios quando Letícia entrou, leve demais para alguém que fingia casualidade.
— Amiga… posso te mostrar uma coisa?
Anyellen ergueu os olhos, cansados, mas disponíveis. Letícia sentou-se ao lado, colocou o celular sobre a mesa e suspirou.
— Eu não queria me meter. Mas... eu achei que você deveria ver isso.
No visor, uma imagem.
Depois, uma mensagem.
Miguel. Supostamente.
Palavras que ele nunca disse.
Mas que, escritas daquele jeito, pareciam ter saído da boca dele.
"Ela é só distração. A ONG é útil, mas o resto… é temporário. Eu sei separar o prazer da missão."
O sangue de Anyellen gelou.
— Onde você viu isso?
A voz saiu rouca, quebrada.
Letícia mordeu o lábio inferior, fazendo pose de quem lamenta.
— Eu vi sem querer. Sério. Juro que não queria ser eu a t