A manhã começara como qualquer outra na ONG, com as crianças correndo pelos corredores e os voluntários se organizando para mais um dia de atividades. Mas Anyellen sabia que havia algo diferente no ar. Algo que mexia com o ritmo natural das coisas. E esse algo usava terno, sorriso enviesado e olhos que pareciam ler até o que ela tentava esconder de si mesma.
Ela estava na sala de vidro, observando Miguel orientando um grupo de adolescentes na confecção de maquetes. Ele se abaixava, tocava com delicadeza as peças, sorria para os jovens com uma paciência que ela jamais imaginou vê-lo ter. Aquela figura que deveria ser uma ameaça à ONG, agora era o centro das atenções.
Letícia se aproximou, café em uma das mãos, a outra apoiada na cintura. Seus olhos seguiram a mesma direção que os de Anyellen.
— Ele está encantando as crianças.
Disse Letícia, num tom que misturava surpresa e algo mais sóbrio.
— E está encantando você também, não está?
Anyellen virou o rosto, tentando disfarçar o rubor