Miguel atravessava o pátio da ONG com os punhos fechados, a camisa social arregaçada nos antebraços e os olhos queimando de intenção contida. Não estava ali para caridade, e ele jamais fingiria isso. Mas também não esperava encontrar uma mulher como Anyellen.
Ela vinha em sua direção com a prancheta contra o peito, os cabelos presos com naturalidade, que era sexy sem fazer força e um olhar que atravessava a alma. Vestia calça jeans, camiseta branca e uma expressão tão firme que faria qualquer executivo recuar. Qualquer um, menos Miguel.
— Você não é o tipo de homem para uma ONG.
Ela disparou, sem cerimônia.
— Essas crianças já foram feridas demais. Elas não aceitam metades.
Miguel parou a meio passo, franzindo levemente a testa.
— Metades?
— Sim. Nem metades de verdade, nem metades de intenção. Aqui, a mentira se reconhece no primeiro olhar. As crianças aprendem isso cedo demais. O seu mundinho de arranha-céus onde todos obedecem a cada ordem sua... não funciona aqui.
A voz dela era