Interlúdio — Arthur

A escuridão da noite se infiltrava pelas janelas da cobertura, apagando os contornos da cidade que se estendia lá embaixo, silenciosa e distante. Arthur permanecia sentado na poltrona de couro preto, os dedos entrelaçados, olhando fixamente para o copo de uísque que repousava sobre a mesa ao lado, intocado.

Era como se aquela bebida quente pudesse ajudar a dissipar o turbilhão que tomava conta de sua mente, mas ele sabia que não seria tão fácil.

O jantar daquela noite ainda estava gravado em sua memória, cada detalhe queimava com a mesma intensidade do toque da mão dela na sua.

O vestido azul, que realçava sua beleza natural sem esforço, o brilho discreto nos olhos dela, e o perfume que ele não conseguia esquecer — um aroma que parecia ter se alojado em suas roupas, em sua pele, tornando impossível qualquer tentativa de distanciamento.

Ele fechou os olhos por um instante e se lembrou da dança.

Não era apenas uma dança, pensou. Era um silêncio que falava mais alto que qualquer palavra.
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