O silêncio no flat era absoluto. Nem os ruídos da rua pareciam alcançar dentro do prédio antigo, nem o motor da geladeira, que de vez em quando reclamava da idade. Helena estava sentada no chão, as costas apoiadas no sofá, os olhos perdidos na escuridão da tela do notebook.
Não sabia por que aquela noite a puxava tanto para trás. Talvez fosse o peso da carta que ainda não entregara. Ou o olhar de Arthur, que começava a buscar mais do que ela estava pronta para mostrar.
Mas ali, na quietude daquela terça-feira, os pensamentos voltaram. Sem pedir permissão.
Voltou para antes de tudo.
Antes da Valente.
Antes de Arthur.
Antes do caos.
Fazia um ano e meio. Um inverno mal definido em Lisboa, quando até o vento parecia hesitar.
Ela se sentou diante do advogado do pai com a expressão fria. O homem a esperava com uma pasta preta, elegante, cheia de documentos que não interessavam a ela — apenas um detalhe interessava.
— Preciso saber quem comprou os ativos da empresa dele — disse Helena, encar