Na manhã seguinte, Helena chegou cedo ao escritório.
Mais cedo do que o necessário.
Mais cedo do que conseguiria explicar, até para si mesma.
Precisava respirar o ambiente antes que ele estivesse lá.
Antes que o cheiro dele, o tom de voz, os passos pelo corredor — tudo aquilo que se tornara impossível de ignorar — tomasse conta de tudo novamente.
O flat estivera sufocante durante a madrugada.
Ela tentara dormir, mas cada vez que fechava os olhos, voltava para aquele escritório, para o beijo, para a forma como o corpo dele encaixara no dela com urgência e precisão.
E o que era pior: voltava para a forma como ela correu.
A vergonha não era por ter se entregado.
Era por ter recuado depois.
Por ter deixado Arthur parado, em silêncio, enquanto ela fugia com medo daquilo que já era inegável.
Agora, caminhava entre as baias ainda vazias do andar executivo como quem atravessava um campo minado.
Quando se sentou à própria mesa, ainda passava das 8h.
Mas não conseguiu tocar em nenhum documento.