Na manhã seguinte, Helena acordou antes do despertador. Por alguns minutos, ficou deitada, olhando o teto branco iluminado pela claridade cinzenta da madrugada. O corpo parecia pesado. A mente, exausta.
Ela não dormira mais do que duas horas.
A carta — aquela maldita carta — não saía da cabeça.
As palavras do pai rodavam num ciclo incessante, uma confissão que desmontava tudo que ela acreditara.
Quando finalmente se levantou, sentiu o frio do chão nos pés descalços. Caminhou até o banheiro, ligou a água gelada e deixou escorrer sobre o rosto. Não adiantava muito.
Por dentro, continuava queimando.
Enquanto se vestia, pensou em ligar para a mãe. Em pedir que colocasse o pai na linha.
Mas só de imaginar aquela conversa, sentiu o peito se fechar.
Ela não estava pronta.
Ainda não.
Prendeu o cabelo num coque baixo, colocou o tailleur cinza que sempre usava nos dias em que precisava de armadura e pegou a bolsa.
O envelope ficaria no flat, bem guardado na gaveta da estante.
Arthur não precisa