Helena acordou antes do despertador tocar. Por um momento, ficou deitada, olhando o teto branco do flat, tentando convencer a si mesma de que era apenas mais uma segunda-feira.
Mas não era.
Desde que saíra da livraria no dia anterior, não conseguia esquecer o olhar dele. Nem as palavras que Arthur dissera com aquela calma que doía mais do que qualquer grito.
Não minta para si mesma.
Era isso que a perseguia. O incômodo de ter sido vista, de verdade, por alguém que não tinha o direito de enxergá-la tão profundamente.
Levantou devagar, sentindo o corpo pesado, como se cada músculo protestasse contra a obrigação de seguir. Vestiu-se com cuidado, escolhendo um conjunto preto de alfaiataria que a fazia sentir-se blindada. Um uniforme de eficiência que não deixava espaço para vulnerabilidade.
Prendeu o cabelo num coque firme, passou o batom nude com mãos seguras, como se aquilo pudesse construir uma versão de si mesma capaz de resistir a qualquer coisa.
Inclusive a ele.
Helena saiu cedo do