Olhei pra ele, e de repente não era mais meu pai. Era o homem que subiria ao púlpito e falaria de pureza, pecado, desobediência, do diabo que se esconde nas vontades da carne. Era o homem que pregava sobre o controle da mulher, a submissão, a santidade das filhas.
— É. — respondi, firme.
O silêncio que veio depois foi ensurdecedor. Ele fechou os olhos, respirou fundo, e balançou a cabeça devagar, como se confirmasse pra si mesmo o que queria negar.
— Como você pôde fazer isso, Isabel?
— Como você pôde me comparar a um objeto de castidade por vinte e cinco anos? — rebati, antes que conseguisse me conter.
Minha mãe engoliu um soluço. Meu pai ficou estático por um instante. E então veio o sermão.
— O corpo é templo do Espírito Santo! E você, Isabel, você foi criada pra servir a Deus, pra ser um exemplo! Não uma…
— Não uma o quê? — cortei. — Uma mulher que toma decisões sobre o próprio corpo? Que não quer engravidar aos vinte, porque sabe que o mundo real não é uma fábula evangélica