— Não. Eu quero ser livre pra não me odiar quando me olho no espelho. Livre pra desejar e ser desejada, ouvir as músicas que eu quiser, sair para onde eu quiser, e me vestir como desejar, sem achar que tô indo pro inferno por isso. Livre pra não ter que fingir pureza pra ser aceita por vocês.
Minha mãe chorava mais alto agora. Tentei não olhar pra ela. Porque se eu olhasse, talvez quebrasse. E eu não podia quebrar. Não naquele momento. Meu pai balançou a cabeça, como se estivesse diante de uma possessa.
— Eu não acredito que você se tornou isso. A filha que mais exigiu oração. Que passou noites comigo ajoelhada no templo… se tornando essa mulher amarga e desobediente.
— Talvez eu sempre tenha sido assim. Só que vocês estavam ocupados demais rezando pra perceber.
O olhar dele ficou parado. Por um segundo, achei que ele ia me bater. Mas ele apenas fechou os olhos e falou baixo, como se fosse uma profecia:
— Deus vai te mostrar o que é certo. Um dia, Ele vai te quebrar de um jeito