Meu corpo reage antes da mente. Me viro, engulo seco. Meu pai está ali, no batente do corredor, com o olhar atravessando a alma.
— Onde você estava?
— Fui levar o candelabro pro seu Zé, o zelador da basílica. Ele pediu que eu entregasse hoje de manhã, antes que ele fosse cuidar da mãe dele no interior.
Clara se mantém atrás de mim, com os olhos baixos, silenciosa.
Ele me encara, avaliando cada palavra como se tivesse o poder de ler intenções na respiração.
— E achou que não precisava me informar?
— Foi tudo muito rápido. Só levei e voltei. Não queria incomodar.
Um silêncio denso preenche a sala. Ele não responde de imediato. O olhar dele desce até os meus pés, depois sobe devagar, como se procurasse vestígios. Provas. Culpas.
Então, com aquele tom que machuca mais do que qualquer grito:
— Você está toda suada. Parece que correu uma maratona. — O olhar recai nas minhas bochechas ainda coradas. — A casa do zelador não é perto, Isabel.
Clara respira mais alto do que gostaria.