Carolina teve sorte. Apesar da queda, não sofreu uma concussão.
Mas um galo enorme se formara na parte de trás da cabeça, fácil de sentir ao toque.
Segurando o local dolorido, ela saiu sem nem olhar por onde andava e acabou esbarrando de frente com alguém.
— Descul… — Interrompeu-se ao levantar os olhos e reconhecer aquele rosto familiar. — Senhor Roberto.
Ele vestia uma camisa de seda cinza-escura, fina e leve, e calças sob medida que se ajustavam perfeitamente ao corpo. Dos ombros ao peito e à cintura, tudo nele exalava elegância e precisão.
— Machucou-se? — Perguntou ele.
Roberto era alto, o topo da cabeça de Carolina mal chegava ao seu queixo. Ele havia notado o inchaço na cabeça dela.
— Não foi nada. — Respondeu, dando um passo para trás e se soltando do apoio dele.
Com naturalidade, ele enfiou as mãos nos bolsos e a fitou com aqueles olhos profundos e impenetráveis.
— Precisa de ajuda?
— Estou bem. — Repetiu Carolina. E, como se lembrasse de algo, acrescentou: — Parabéns pelo casamento, senhor Roberto.
O olhar dele deixou o machucado e pousou em seu rosto, passando por uma sombra quase imperceptível de significado.
— Igualmente. — Disse.
“Igualmente?”
O que havia para ela comemorar? Que fora abandonada? Que o homem a quem amara por sete anos iria se casar com outra?
Por outro lado… também era verdade: no mesmo dia, ela estaria se casando. De certo modo, podia até ser um “parabéns” mútuo.
Carolina lançou a ele um último olhar e se despediu antes de seguir seu caminho.
A queda lhe rendeu um benefício inesperado: uns dias de folga. Aproveitaria para organizar suas coisas.
O apartamento onde vivia ainda pertencia a Matheus. Três meses antes, eles ainda moravam juntos ali. Mas, depois que ele reatou com Tatiane, mudou-se para a Villa do Bosque e o lugar virou seu refúgio solitário.
Mesmo assim, o apartamento ainda carregava a presença dele. Havia sapatos de Matheus no armário da entrada, camisas dele penduradas no cabideiro, taças e garrafas favoritas no bar, e até a manta que ele usava quando dormia no sofá.
Em três meses, Carolina não tocara em nada disso, como se, mantendo tudo no lugar, ele pudesse voltar a qualquer momento.
Mas ela sabia: nem ele, nem aquelas coisas, voltariam para ela.
O que era dele, não mexeria. Mas o que era seu, estava decidida a arrumar. Começou a empacotar roupas, sapatos, produtos pessoais e até quadros e pequenos enfeites que pertenciam a ela.
Quando Matheus chegou, percebeu de imediato que havia algo diferente no apartamento.
Não soube, de primeira, dizer exatamente o que era.
Desde que estava com Tatiane, nunca mais pusera os pés ali e, de repente, o lugar lhe pareceu… Estranho.
Carolina não esperava que ele aparecesse.
— Senhor Matheus, aconteceu alguma coisa? Ou a senhorita Tatiane precisa de algo? — Perguntou.
Matheus fixou o olhar no rosto dela, pálido.
— Como está o machucado?
Naquele dia, quando ela se feriu na loja de vestidos, foi sozinha ao hospital.
Ele estava ocupado segurando Tatiane, porque Tatiane tinha ficado assustada.
— Não vou morrer. — Respondeu, com a voz ríspida.
Ela era humana, não de pedra. Mesmo que não esperasse compaixão ou pena dele, ainda tinha sentimentos.
Afinal, estivera com ele desde o zero até agora. Mesmo que não houvesse amor, havia o vínculo de quem lutou lado a lado. Mas, quando ela se machucou, ele a deixou ir sozinha ao hospital.
Matheus se aproximou e, de repente, puxou-a para dentro de seus braços. Levou a mão aos cabelos dela, afastando-os.
Quando os dedos dele tocaram o galo ainda inchado em sua cabeça, a dor fez Carolina recuar instintivamente. Ela o empurrou com força.
— Um galo desse tamanho… Por que não cuidou? — Ele tentou puxá-la de novo. — Venha comigo ao hospital.
Carolina recuou ainda mais.
— O médico disse que é sangue acumulado. Quer que eu vá ao hospital para me fazerem sangrar?
Era um hematoma, precisaria de tempo para o corpo absorver.
O olhar de Matheus escureceu com um traço de dor.
— Carol, hoje eu… Eu não deixei de te salvar de propósito. É que, no momento, só pude salvar uma pessoa…
“Só podia salvar uma.
E ele salvara aquela que mais amava.”
Dizem que a reação instintiva de uma pessoa revela o que está no coração.
Carolina sabia. Ele não precisava dizer mais nada, ela entendia.
— Ela é sua noiva. Eu entendo que você a tenha salvado. — Disse, baixando os olhos, que ainda assim se encheram de lágrimas que ela não conseguiu conter.
— Carol, eu… — Matheus começou, mas o toque do celular o interrompeu.
Ele conferiu o número e colocou o celular no modo silencioso.
— Carol, fica em casa e descansa. Os preparativos do casamento, deixa que outra pessoa resolve. Mas, na véspera e no próprio dia, quero você lá.