Ele tinha dito para Carolina descansar.
Mas ela não descansou.
Ainda havia muito a fazer.
No primeiro dia, foi para a empresa e passou o dia inteiro terminando as pendências: concluiu todo o repasse de funções, organizou os documentos a serem assinados, reuniu os contratos que precisavam ser entregues e deixou o diário de compromissos de Matheus devidamente classificado.
Nesse dia, na copa, ouviu colegas comentando que Matheus, para causar o máximo impacto, tinha comprado todos os painéis eletrônicos da cidade A para transmitir a cerimônia ao vivo.
No segundo dia de folga, Carolina empacotou todas as suas coisas que ainda estavam no apartamento de Matheus e as entregou a voluntários, para que fossem doadas a quem precisasse.
Naquele dia, ouviu esses mesmos voluntários comentando que a família Santos, para celebrar o casamento de Roberto, iria oferecer um grande banquete aberto a toda a cidade A, sem aceitar presentes.
No terceiro dia, Carolina foi à igreja.
Passou seis horas inteiras raspando, com as próprias mãos, os nomes que ela e Matheus tinham gravado na pedra anos atrás.
Quando finalmente apagou tudo, a pele de seus dedos estava em carne viva, sangrando.
Nesse dia, na televisão, viu a entrevista de Matheus e Tatiane juntos. Ele prometia oferecer ao público um casamento totalmente inovador e inesquecível.
No quarto dia, véspera do casamento, Carolina foi ao local da cerimônia e presenciou o ensaio de Matheus e Tatiane.
Tatiane, radiante, convidou-a para subir ao palco:
— Senhorita Carolina, no dia vou jogar o buquê para você. Assim você herda a nossa felicidade e encontra logo o amor da sua vida.
Carolina fez exatamente como ela pediu: ficou atrás, assistindo enquanto eles percorriam cada passo do ritual.
Viu Matheus pronunciar votos de amor para Tatiane, colocar o anel em sua mão, e Tatiane, de olhos fechados e cabeça erguida, esperando pelo beijo.
Mas o beijo não veio.
Matheus desviou o olhar para Carolina.
E a viu ali, de expressão tranquila e olhar límpido, observando-os.
Naquele momento, ela lhe pareceu uma estranha.
E, junto com essa estranheza, nasceu nele uma sensação inexplicável, mistura de inquietação e medo.
— Por hoje chega. Estou um pouco cansado. — Disse Matheus, encerrando o ensaio.
Que pena… Se ela tivesse visto, talvez seu coração morresse de vez.
Mas não viu hoje… E não veria amanhã.
Porque, amanhã, ela não viria mais.
— Theus… — Protestou Tatiane, contrariada.
Ela queria se enroscar em Matheus na frente de Carolina, para que esta perdesse de vez qualquer ilusão.
— Carolina, venha aqui. — Interrompeu Matheus, chamando-a.
— O senhor tem alguma instrução? — Respondeu ela, no tom mais formal possível.
Matheus tirou a gravata do pescoço. Olhou para Carolina como se quisesse dizer algo, mas não soube por onde começar. No fim, apenas atirou a gravata para ela.
— Prepare outra para mim.
— Carolina, amanhã não quero ver você. Você não vai aparecer no meu casamento. — Disse Tatiane, pegando a gravata da mão de Matheus e lançando a ela um olhar frio de aviso.
Ela sabia: o motivo de Matheus não ter querido beijá-la antes estava ligado a Carolina. E tinha visto o jeito como ele olhara para a outra.
Inicialmente, sua ideia era fazer Carolina vir ao casamento, para testemunhar sua felicidade com Matheus e, assim, desistir.
Mas agora, mudara de ideia. Temia que a presença dela trouxesse algum imprevisto.
Carolina notou o nervosismo escondido no rosto de Tatiane e sorriu de leve.
— Então, você vai ficar sem uma das madrinhas.
— Isso não é problema seu. Só não apareça amanhã. Se ousar vir, se prepare para passar vergonha. — Ameaçou Tatiane.
Lembrando-se da armadilha que sofrera no dia da prova do vestido, Carolina assentiu levemente.
— Está bem. Mas tenho algo a lhe dizer.
— O quê? — Tatiane estreitou os olhos.
Carolina fez um gesto para que ela se aproximasse. Embora relutante, Tatiane deu dois passos até ficar diante dela.
Carolina segurou seu braço e apoiou a outra mão na cintura da rival.
Um espasmo agudo de dor fez os olhos de Tatiane se arregalarem.
— Ca…
— Senhorita Tatiane. — Elevou a voz, abafando a reação da outra. — Desejo a você e ao senhor Matheus uma vida longa juntos… E muitos filhos.
A cada palavra, a agulha de aço que ela enterrava na cintura de Tatiane penetrava um pouco mais…
Afinal, foi exatamente assim, com uma agulha, que Tatiane a ferira naquele dia.