O Contrato e a Ameaça

O táxi parou diante da imponente mansão dos Vitale. Rose respirou fundo antes de descer. Não trazia sua mala, apenas a coragem forçada de quem sabia que estava prestes a encarar um mundo hostil. Pediu ao mordomo que acertasse o motorista.

Enquanto ele pagava, ouviu uma risada debochada ecoar no hall.

— Nossa... nem dinheiro pra pagar um táxi você tem? — ironizou Ana, sua meia-irmã, com o sorriso cruel de quem sempre foi a favorita.

Rose a fitou em silêncio, engolindo a raiva. Ana era filha de Valéria, a mulher pela qual seu pai abandonara sua mãe no interior.

Valéria surgiu logo em seguida, com seu ar altivo e frio.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, erguendo as sobrancelhas, quase satisfeita com a cena.

— Fui roubada na rodoviária. Levaram minha mala e não tinha dinheiro para pagar o táxi. Pedi para o mordomo resolver. — respondeu Rose, firme, embora sua voz carregasse o peso do constrangimento.

Ana explodiu em gargalhadas novamente, enquanto Valéria balançava a cabeça com desdém.

— Roubada? Logo você? Seu pai mandava tanto dinheiro para vocês... e você aparece aqui dizendo que não tem nada? — disse a madrasta, venenosa.

Rose apenas suspirou. Já sabia: conviver com Valéria e Ana seria um fardo pesado.

No jantar.

Naquela noite, a mesa da família Vitale parecia um campo de batalha silencioso. Quando Antônio, seu pai, finalmente entrou, Rose se surpreendeu. Ele a olhou como nunca antes.

— Filha... você está tão bonita. Lembra muito sua mãe.

Rose quase não acreditou. Seu pai, que sempre fora distante, a elogiava diante de todos.

Valéria, sentindo-se humilhada, tratou de cortar o momento:

— Sua filha foi assaltada hoje na rodoviária. Perdeu tudo.

Antônio ergueu a mão, indiferente ao tom dela.

— Não se preocupe, filha. Compraremos tudo de novo.

Rose engoliu em seco. “Por que ele está tão amável? Isso não é dele...”

— Pai, o que tinha naquela mala eram lembranças da mamãe. Isso não se compra... — disse, com a voz embargada.

Ele desviou o olhar, mas não respondeu.

Mais tarde, ao subir para o quarto que lhe haviam destinado, Rose encontrou tudo impecavelmente arrumado: roupas novas no guarda-roupa, joias sobre a penteadeira, perfumes, acessórios. Era um luxo que nunca conhecera. Mas, ao invés de alegria, sentiu desconfiança.

“Isso não é normal. Meu pai nunca foi assim comigo. Alguma coisa está acontecendo.”

Exausta da viagem e da tensão, Rose se deitou. Escondeu a arma debaixo do colchão e, em meio aos pensamentos confusos, lembrou: “Peguei a arma de alguém perigoso... e ele me beijou. Meu Deus, que loucura aconteceu hoje.” O cansaço, enfim, a venceu, e ela adormeceu lembrando de Frank e seus olhos intensos.

Na manhã seguinte, à mesa do café, Antônio folheava o jornal quando falou sem rodeios:

— Rose, vou ser direto. O seu casamento arranjado com a família Deluca aquele que sua mãe insistiu, contra a minha vontade... na verdade, foi a melhor coisa que ela fez.

Ela ergueu os olhos, surpresa.

— O quê?

— Minha reputação não é mais a mesma. Nosso dinheiro diminuiu. Você vai se casar com o caçula da família Deluca. Ele está na Alemanha, mas logo já volta . Está tudo decidido. Não estrague isso, nem tente recusar.

Rose sentiu o chão sumir sob seus pés. Agora compreendia a mudança no comportamento do pai: não era amor. Era interesse.

Baixou a cabeça. O fardo que carregava era mais pesado do que jamais imaginaria.

Ana, com sua voz irritante, quebrou o silêncio:

— Anime-se, Rosalie! Papai nos deu dinheiro para comprar vestidos novos para o jantar desta noite com a família DeLuca.

Rose fechou os olhos por um instante, contendo a raiva.

Na loja 

Com um chofer e um segurança, as três — Rose, Ana e Valéria — seguiram até uma loja luxuosa.

Rose provava vestidos sem entusiasmo, escolhendo qualquer um apenas para encerrar logo aquela farsa. Quando terminou, virou-se para a madrasta:

— Vou na rodoviária. Preciso ver se encontro minha mala.

Valéria deu de ombros, indiferente:

— Faça o que quiser.

O segurança não a acompanhou.

Ela sentir-se melhor assim 

Queria caminhar sozinha.

Virando uma esquina, Rose sentiu um puxão brusco em seu braço. Antes que pudesse reagir, foi jogada dentro do banco de trás de um carro.

Ofegante, em choque, levantou os olhos. O coração quase parou.

Era ele.

— Você?! — sussurrou, a voz falhando.

Franck a observava de perto, os olhos escuros queimando como brasas.

— Quem é você? — perguntou, sério, sem soltar seu braço.

— Quem é você? — retrucou Rose, ironicamente 

Ele ignorou a pergunta dela.

— Qual o seu nome?

O coração dela disparou. Pensou “ Não posso dizer meu nome verdadeiro, ele é maluco” Em um impulso, mentiu:

— Maria.

Franck estreitou os olhos, como se pudesse ver além da mentira. Um sorriso de canto surgiu em seus lábios perigosos.

— Certo, Maria... — murmurou, encarando-a de maneira intensa. 

Ele estava perto demais. O cheiro dele a envolvia, a respiração quente roçava sua pele. A mão dele subiu até o queixo de Rose, forçando-a a encará-lo.

— Me solta agora. Me deixa em paz! — ela disse, firme, mesmo com o coração disparado e empurrando.

Franck arqueou uma sobrancelha, quase divertido.

— Você não quer ficar comigo? Tem muitas que dariam tudo pra estar no seu lugar.

— Eu não quero! — Rose rebateu com firmeza. — Sou boa moça, não fico se agarrando com qualquer um por aí.

Ele riu baixo, um riso provocador, e roubou um beijo à força. Rose o empurrou com raiva. Lembrava do seu contrato do que prometeu ao seu pai.

— Ninguém me recusa — murmurou, como se fosse uma verdade absoluta. — Vamos para um lugar.

O motorista lançou um olhar curioso pelo retrovisor.

— Chefe… para onde?

Franck não desviou os olhos dela, analisando cada tremor, cada fôlego preso.

— Para o interrogatório — respondeu, frio.

Rose preocupada pergunta 

— Que interrogatório?

Ele só olhou para ela sem responder, mas no seu olhar tinha alguma coisa que Rose não entendeu.

Rose engoliu seco. 

No caminho o silêncio pesava. Franck mantinha uma mão firme sobre sua perna. Ela afastava, ele retornava, impondo presença.

“Ele é lindo… mas é louco. Para onde está me levando?”, pensava, aflita.

Quando o carro parou, Rose viu diante de si uma mansão abandonada, imersa em sombras. O estômago dela se revirou. Franck a puxou pelo braço com brutalidade, conduzindo-a para dentro.

“Agora ele vai me matar”, imaginou, apavorada.

Descendo as escadas úmidas, chegaram ao porão. O ar cheirava a mofo e ferro. No chão, um homem ensanguentado gemia de dor, cercado por dois capangas. Rose prendeu a respiração. Nunca tinha presenciado tamanha violência.

Franck se sentou numa cadeira e, sem pedir, puxou Rose para o colo. Ela ficou rígida, olhos fixos no prisioneiro. A mão dele apertava sua coxa, como se quisesse lembrá-la de quem mandava ali.

— Ele já falou quem tentou me matar na rodoviária? — Franck perguntou, frio, olhando para um dos homens.

— Nada, chefe. Não abre a boca — respondeu o capanga, com as mãos sujas de sangue.

— Então mata ele. — A voz de Franck saiu sem emoção.

O prisioneiro implorou por misericórdia, gritos ecoando no porão. Rose, sem conseguir se calar, suplicou:

— Por favor… não faça isso!

Franck a fitou, os olhos escuros queimando os dela.

— Eu faço isso com quem mente pra mim. Com quem não obedece.

Rose estremeceu. A pressão da mão dele em sua coxa aumentava. Então, sem hesitar, o capanga puxou o gatilho. O estampido do tiro reverberou nas paredes, e o corpo no chão silenciou para sempre.

Rose se encolheu com o rosto no peito dele, lágrimas escorrendo sem controle. O coração batia acelerado.

Franck aproximou-se, os lábios ao ouvido dela.

— Não fica assim, querida… Eu gosto de você. Gostei desde o começo. Você será minha.

Rose, paralisada, não respondeu. Apenas chorou em silêncio, prisioneira do medo — e da estranha intensidade daquele homem que parecia capaz de tudo.

De volta ao carro, Franck puxou-a novamente para o colo, como se fosse uma posse dele. A diferença de tamanho e força fazia Rose se sentir pequena, frágil, prisioneira de braços que mais pareciam correntes.

Com um gesto lento, ele tirou um lenço de linho do bolso do paletó e enxugou suas lágrimas, o olhar fixo e intenso. Antes que ela pudesse recuar, seus lábios a tomaram outra vez. Agora, o beijo não era áspero, mas lento, profundo, carregado de uma intensidade que confundia os sentidos.

Rose sentiu o corpo contraindo de medo. Havia pavor — mas ao mesmo tempo uma emoção quase proibida, que a fazia corresponder, perdida entre a razão e o desejo.

Ainda no colo dele, Frank segurou o rosto num gesto gentil.

— Onde está… a minha pistola? — Os olhos dele brilharam de ironia — Não vai dizer que não sabe… — ele falou devagar, a voz grave arrastando cada sílaba. — Sei que está com você. Foi você que pegou.

Rose gelou. O coração disparou.

— S-sim… eu peguei. Me desculpa… — admitiu, com a voz trêmula.

Um sorriso sarcástico curvou os lábios dele.

— Ótima menina. — O tom soava como um elogio envenenado.

Sem soltar Rose, Franck ordenou ao motorista:

— Para a mansão da família Vitale.

O mundo de Rose pareceu desabar. Um arrepio gelado percorreu sua espinha. Como ele sabia?

Franck percebeu o susto estampado em seu rosto e riu, satisfeito com a surpresa.

— Achou mesmo que eu não sabia quem era você, Rosalie Vitale?

Rose se desvencilhou rapidamente do colo dele e se encolheu no assento ao lado, o corpo inteiro tremendo.

Ele, calmo como quem dita o destino de alguém, inclinou-se e murmurou:

— Não precisa ter medo, princesa. Vou levar você para casa.

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