O Beijo e o Destino

O corredor da rodoviária estava abafado, cheio de vozes e passos apressados. Rosalie tentava abrir caminho com sua mala pequena, quando uma mão forte agarrou seu braço de repente.

— Vem! — a voz masculina soou urgente, firme, quase uma ordem.

— Me solta! Quem é você? — protestou, assustada, tentando se livrar.

Mas ele não ouviu. Apenas a puxou com brutalidade até uma passagem estreita e mal iluminada. Em um instante, seu corpo foi prensado contra a parede fria. O casaco longo dele sobre os dois como uma sombra, escondendo-os do olhar alheio.

Rosalie continuou — Me solta, me solta!

— Você fala demais... — murmurou, a respiração quente e ofegante roçando no rosto dela.

O medo a paralisou. O coração de Rose batia tão alto que parecia ecoar naquele beco escuro. “Vou morrer...” — pensou, com os olhos marejados.

Então veio a ordem que a gelou por dentro:

— Me beija.

Rosalie ficou atônita, incapaz de acreditar no que ouvira.

— O quê? Não! — retrucou, encarando aqueles olhos escuros que a atravessavam como lâminas.

Mas não houve espaço para recusa. Ele encostou seus lábios nos dela com brutalidade, num beijo áspero, urgente, carregado de desespero. Seu corpo inteiro se retesou. Uma das mãos dele segurava seu braço com força, enquanto a outra prendia sua nuca, obrigando-a a permanecer ali.

Ela sentiu o cheiro amadeirado da pele dele, o calor sufocante de sua respiração. No desespero, ao tentar se soltar, sua mão esbarrou no bolso interno do casaco masculino e encontrou o frio metálico de uma arma. Um arrepio cortou-lhe a espinha. Instintivamente, puxou a pistola e a escondeu no cós da saia, tremendo.

Ele interrompeu o beijo por um instante, os olhos fixos nos dela, intensos, como se quisesse decifrá-la.

— Você não é daqui... certo? — disse, quase como uma constatação.

A voz dela falhou. Apenas balançou a cabeça em silêncio, engolindo o medo que a consumia.

De repente, sem lhe dar tempo de reagir, ele voltou a beijá-la. Um segundo beijo, mais intenso, mais profundo, como se quisesse marcá-la. Rose tentou resistir, mas suas forças a traíram. Seus lábios eram firmes, dominadores. Sua mão deslizou até suas costas, puxando-a contra o corpo másculo, e ela sentiu a pressão forte dele em si.

Seu pensamento gritou em desespero:

“Não foi assim que imaginei meu primeiro beijo...”

Quando ele se afastou, ainda segurando seu rosto, parecia analisar cada traço, como se quisesse gravar sua imagem na memória.

Então, de repente, seu corpo ficou tenso. Homens armados passaram correndo pelo corredor, vasculhando cada canto como predadores em busca de presa.

— Eles já passaram? — perguntou, sem desviar os olhos dos dela.

Com as pernas bambas, Ela se ergueu na ponta dos pés para enxergar além de seu ombro largo. Seu coração batia na garganta.

— Sim... já passaram — respondeu quase sem voz.

Foi então que outro rapaz surgiu, o rosto aliviado.

— Foi por pouco. Solta ela Franck, eles já se foram.

O agressor — Franck — recuou devagar. O segundo homem olhava a cena com um sorriso incrédulo disse:

— Olha só... pensei que fosse só para despistar, mas pelo jeito você aproveitou bem a situação, hein?

Rosalie  aproveitou a distração e o empurrou com força e ela correu sem olhar para trás, ofegante, o coração em chamas.

Quem era esse Frank?

Quem era Rosalie —Seu nome era Rosalie Vitale, mas desde pequena todos a chamavam de Rose. Tinha apenas dezenove anos e, até aquele dia, acreditava que seu maior sofrimento era carregar o fardo de um destino que não escolhera.

A viagem até a cidade grande foi silenciosa e melancólica. A cada quilômetro que o ônibus percorria, afastava-se de sua antiga vida e se aproximava de um futuro que a assustava. Um mês antes, sua mãe — sua melhor amiga, sua protetora — havia partido para sempre. Fora ela quem lhe ensinara a ser forte, mas nada a preparara para viver sem aquele apoio.

Agora, o caminho a levava até seu pai, Antônio Vitale, um homem poderoso e temido, mas frio. Nunca lhe dera carinho, nunca a buscara quando precisou. Para ele, Rose não era filha, mas apenas uma peça em seu tabuleiro de alianças.

Desde criança, fora prometida em casamento a um homem que nem conhecia. Uma tradição cruel da Máfia italiana: unir famílias através de matrimônios arranjados, como se mulheres fossem apenas moedas de troca. Rose crescera sabendo que não teria direito de escolher seu amor.

E, ainda assim, nunca imaginara que a primeira pessoa a tocar seus lábios seria um estranho na rodoviária. Um homem que cheirava a perigo. Um homem chamado Franck. Dava para perceber que ele era algum tipo de criminoso.

Rose após empurrar Frank correu até não sentir mais as pernas. Mas, mesmo longe daquele corredor, ainda sentia o peso de seu olhar, o calor de sua boca, e a estranha mistura de medo e fascínio que ele deixara em sua pele.

No banheiro feminino da rodoviária, Rose se apoiou na pia fria. Seu reflexo no espelho revelava os lábios vermelho daquele beijo forçado e os olhos arregalados de pavor.

Tirou a pistola do cós da saia. O metal gelado pesava em suas mãos. Estava carregada, pronta para disparar. O coração disparou ainda mais.

“E se ele tivesse atirado em mim?” — pensou, quase sufocada.

Mas outra pergunta logo a atormentou: “E por que eu não larguei essa arma? Por que a peguei, se não sei atirar?”

Guardou a pistola de volta, escondendo-a sob a blusa. Então um choque a atingiu: “Minha mala!”

— Ah, meu Deus... perdi minha mala... — sussurrou, a frustração lhe queimando o peito.

Ali estavam roupas, lembranças da mãe, tudo que ainda lhe dava algum conforto. Agora, perdida na multidão, sua mala já devia estar em mãos erradas.

Determinada, saiu do banheiro com passos firmes. Do lado de fora, chamou um táxi e deu o endereço que não saía de sua mente: a mansão do pai, Antônio Vitale.

Encostou a cabeça no vidro da janela e fechou os olhos. A imagem de Franck voltou como um raio: os olhos escuros, o beijo roubado, a sensação avassaladora.

Ela não sabia quem ele era. E, sinceramente, acreditava que nem queria saber. O melhor seria enterrar aquilo dentro de si.

Mas uma certeza já a corroía: por mais que tentasse, nunca conseguiria esquecer Franck.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App