Gustavo e Clara 3

Gustavo

Cheguei em casa morto.

Dia longo, reunião chata, trânsito infernal.

Tudo o que eu queria era cair no sofá e virar planta até segunda-feira.

Mas aí lembrei da Clara.

E, de repente, o sofá perdeu a graça.

Fui pro espelho, olhei meu reflexo e comecei o debate interno.

— Tá feio, hein, Vasconcelos? — falei pro espelho. — Parecendo um executivo em decomposição.

Abri o armário, joguei a camisa amarrotada no chão e puxei a preta, aquela que nunca falha.

Perfume, cabelo pra cima, sorriso testado e aprovado.

Pronto. De volta à ativa.

Enquanto passava o relógio, pensei alto:

— Você é um idiota.

Mas um idiota cheiroso, então ainda há esperança.

Peguei as chaves, o celular, e encarei a porta por um segundo.

Parte de mim queria ficar. A outra queria ver até onde aquela mulher ia me deixar falar antes de me mandar calar a boca.

E eu sempre fui péssimo em resistir a curiosidade.

O Le Point tava do mesmo jeito de sempre, luz baixa, cheiro de cerveja e risada espalhada pelos cantos.

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