Gustavo
Cheguei em casa morto.
Dia longo, reunião chata, trânsito infernal.
Tudo o que eu queria era cair no sofá e virar planta até segunda-feira.
Mas aí lembrei da Clara.
E, de repente, o sofá perdeu a graça.
Fui pro espelho, olhei meu reflexo e comecei o debate interno.
— Tá feio, hein, Vasconcelos? — falei pro espelho. — Parecendo um executivo em decomposição.
Abri o armário, joguei a camisa amarrotada no chão e puxei a preta, aquela que nunca falha.
Perfume, cabelo pra cima, sorriso testado e aprovado.
Pronto. De volta à ativa.
Enquanto passava o relógio, pensei alto:
— Você é um idiota.
Mas um idiota cheiroso, então ainda há esperança.
Peguei as chaves, o celular, e encarei a porta por um segundo.
Parte de mim queria ficar. A outra queria ver até onde aquela mulher ia me deixar falar antes de me mandar calar a boca.
E eu sempre fui péssimo em resistir a curiosidade.
O Le Point tava do mesmo jeito de sempre, luz baixa, cheiro de cerveja e risada espalhada pelos cantos.