Amara
A cidade acordou gritando.
Das janelas, bandeiras. Nas calçadas, cartazes. Na internet, cortes do vídeo da praça repetidos até cansar. Em uma esquina, um grupo pedia “justiça”. Na outra, gritavam “fora monstros”. Em frente ao prédio da fundação, um terceiro grupo levantava faixas:
— “Deixem Blackwell liderar. Precisamos de alguém mais forte”.
Desci com Ronan para checar o movimento. A rua era um corredor de vozes.
— Fica perto — ele disse. — Não subestima ninguém hoje.
— Eu não vou provocar — respondi. — Só quero ouvir.
Uma mulher parou na minha frente, celular na mão, dedo apontado.
— Você é a bruxa que enfeitiçou ele!
— Não sou bruxa — respondi, firme. — Sou esposa. E sou gente.
— Você protege um monstro!
— Eu protejo um homem que salvou vidas ontem. É isso.
Ela bufou e se afastou, ainda filmando. Outra pessoa chegou mais calma:
— Eu não sei o que pensar, Amara. Mas eu te ouvi na TV. Obrigada por falar sem gritar.
— Obrigada por perguntar sem ofender — respondi.
Uma garotinha