Amara
Acordei com o som insistente dos celulares vibrando. A televisão da sala, que eu tinha esquecido ligada no mudo, mostrava meu rosto ao lado do de Damian em tela grande, repetindo vídeos editados.
Sentei na cama, o coração acelerado, a respiração curta. O dossiê de Voss tinha corrido como veneno pela cidade: “rituais de seita”, “violência empresarial”, “lobo da cidade”. As imagens recortadas mostravam arranhões na minha pele, marcas que eu conheço, agora usadas como “prova”.
— Não — disse pra mim mesma, firme. — Eu não vou recuar.
Vesti um conjunto simples, prendi o cabelo e fui até a varanda. Mirella chamava no telefone.
— “Fica calma” — ela pediu. — “Mede as palavras. Diz o que é verdade e só o que é verdade.”
— Eu vou falar — respondi. — Não só por ele. Por mim. Pelo que é nosso.
Ronan chegou minutos depois.
— Estão lá embaixo — disse. — Jornalistas, microfones, câmeras. Quer que a gente tire você por trás?
— Hoje, não — respondi. — Hoje eu saio pela porta da frente.
Descemos