Damian
O vento cortava o rooftop como lâmina lavada em sal. A cidade, lá embaixo, parecia um tabuleiro com peças demais. Adrian Voss esperava junto à mureta, terno escuro, sorriso que não alcançava os olhos.
— Blackwell — saudou, acendendo o charuto. — Os jornais amam tragédias, os conselhos, sucessões. Vim oferecer o caminho menos doloroso.
— Para quem? — perguntei.
— Para todos que aprenderem a me ouvir. Fusões. Uma cadeira a mais para mim. Duas a menos para você. Um pouco de sangue velho enxaguado em dividendos.
— Negócio com ameaça é assalto com PowerPoint.
Ele riu e soltou fumaça na cara do vento.
— Você já não segura a cidade como antes. O board murmura. O mercado fareja hesitação. E agora existe… a esposa.
— Cuidado com a próxima palavra.
— Companheiras — ele baixou o tom, como quem mira com o som. — Sem uma, um Alfa é só lenda cansada. Você, Blackwell, anda fraco. E a cidade escolhe novos deuses todos os dias.
O lobo, dentro, empinou as orelhas. Uma parte de mim quis empurrá-